domingo, 24 de maio de 2009

O Mundo dos Mangás e a Adolescencia

O mangá é um gênero da literatura japonesa caracterizado por quadrinhos. O mangá moderno, como é conhecido hoje em dia, foi concebido por um cara chamado Osamu Tesuka que, por sua vez, foi influenciado por artistas ocidentais como Walt Disney e Max Fleischer (o criador da Betty Boop, minha pin-up favorita).

Esses desenhos, em geral, destacam olhos, bocas, sobrancelhas e narizes de maneira bastante exagerada, infantili, aumentado a expressividade dos personagens. Foi esse cara quem introduziu os movimentos nas HQ's através de efeitos gráficos, como linhas que dão a impressão de velocidade, destacando todas as ações que descrevem movimento. A partir daí as histórias dos mangás ficaram mais longas e começaram a ser divididas em capítulos.

Esse tal de Osamu Tezuka tinha até um estúdio próprio e produziu a primeira série de animação (animê) para a TV japonesa: o Astro Boy. Isso em 1963. A partir daí o mangá passou do papel para a televisão e ganhou esse aspecto comercial que lhe é tão característico.

Conheci esse mundo através do meu filho. A geração dele é bem influenciada por esses desenhos japoneses. Na minha época já passava uns enlatados japoneses bem trash como o Ultramen e o Spectramen. Mas hoje, cada série de TV é destinada à uma faixa etária. Não há como escapar. Esses desenhos determinam toda uma forma de consumo que vêm a reboque de um lançamento.

Boa parte das crianças da geração video-game, sejam elas do ocidente ou do oriente, ficaram viciadas nessas séries japinhas que passam na TV: é Pokemon, é Digimon, Yugi-Oh, Naruto, Death Note, Love Hina, One Pice e muitos outros, alimentando todo um consumismo desenfreado no público infantil e teen. Esses desenhos movem uma indústria midiatica que vende de tudo mesmo. É figurinha, é mochila, é camiseta. São milhões de bonecos, joguinhos, cartinhas... E viram temas de festas infantis. É apelativo. Transformam-se em objetos do desejo e movimentam royalties robustos... Quem já teve muitas festinhas infantis para comparecer, sabe que elas têm, todas, a mesma cara, o mesmo formato. O que muda é o tema. Assim, fica parecendo que uma festa é diferente da outra, mas na verdade, elas são absolutamente iguais.

Atualmente, a onda do meu adolescente são os mangás erotizados com conteúdo bem teen. Tudo é libidinoso de um jeito muito adolescente, sob medida para hormônios acelerados. Incrivelmente, já houve um pedido de viagem lá em casa para Tokyo, ao invés da Disney. Numa total inversão do sonho de consumo adolescente.


A paixão agora é por uma série chamada To Love Ru. Uma historinha sem pé nem cabeça, da qual ele é fiel devoto. Foi tema da festinha de 12 anos que eu produzi para ele. Desenhos do artista lá de casa. Conta a história de Rito, um garoto de 16 anos, filho de um executivo workaholic e de uma estilista que está sempre viajando a trabalho. Um aluno normal, que gosta de futebol e que tem uma queda por uma menina do seu colégio chamada Haruna. Como vários garotos nessa idade, ele tem dificuldade de conversar com garotas e não consegue declarar o seu interesse por ela.

É aí que acontece uma coisa bem surreal. Surge uma menina nua na sua banheira, chamada Lala Deviluke. Ela é na verdade uma princesa extraterrestre fugitiva que acaba se apaixonando por ele, ficando a melhor amiga da menina que ele gosta - a tal da Haruna - e que prefere ficar na Terra morando com o garoto e sua irmã, já que os pais dos dois estão sempre ausentes mesmo. É, tem um recadinho para os pais nessa historinha. E um conflito triangular na historinha.

Os adolescentes sempre foram o público-alvo do gênero dos mangás, mas eles se diversificaram tanto que acabaram virando um fenômeno cultural e comercial no Japão. Em parte por alcançarem todas as gerações e classes sociais, mas principalmente por serem baratos e acessíveis. Nos anos 60, apareceram os primeiros mangás adultos. Tinham assuntos mais profundos e roteiros mais complexos. E a partir daí surgiram também os mangás eróticos.

Os mangás falam de assuntos triviais como a vida escolar, o trabalho, os esportes, o amor, a guerra, o medo, a economia, a história do Japão... Assim, foram diversificando-se segundo o gosto de cada público e sendo aceitos culturalmente até tornarem-se esse fenômeno de hoje. A leitura única e exclusiva desse gênero, seria bastante questionável, como quase tudo o que é excessivo. Mas não se pode ignorar que eles realmente representam um novo fenômeno cultural. Eu faço a minha parte. Tento estimular e respeitar as mais variadas formas de expressão. E tento entender as novas que me são apresentadas. Sei que vou julgar mesmo. É inerente a mim e ao ser humano. Mas o fato de desconhecer algo, não me impede de enxergá-lo, processá-lo e ter a boa vontade de querer conhecê-lo. Os mangás são uma ponte para o universo particular do meu adolescente.

Uma curiosidade: A ordem de leitura de uma revistinha de mangá é inversa a ordem da ocidental, ou seja, a leitura das páginas é feita da direita para a esquerda. É a maior birutice para os padrões ocidentais. O conteúdo é em preto-e-branco, e, às vezes, têm algumas páginas coloridas, em papel reciclado, o que os tornam baratos e acessíveis. A edição de mangás representa hoje mais de 1/3 da tiragem e mais de 1/4 dos rendimentos do mercado editorial do Japão. Daí se entende o estímulo ao consumo de tudo o que produzem.


terça-feira, 19 de maio de 2009

Na Ilha Por Vezes Habitada

Na ilha por vezes habitada do que somos,
há noites,manhãs e madrugadas em que não precisamos de morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo aparece explicado definitivamente e entra em nós uma grande serenidade,
e dizem-se as palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas mãos. Com doçura.
Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a vontade e os limites.
Podemos então dizer que somos livres,
com a paz e o sorriso de quem se reconhece
e viajou à roda do mundo infatigável,
porque mordeu a alma até aos ossos dela.
Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres como a água, a pedra e a raiz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste.

José Saramago
Dia de ilha desértica interior cercada de gente por todos os lados. Naufragando num monte de insatisfações do mosaico que me constrói. Foto de Sebastião Salgado. Um brasileiro de muito respeito, sim senhor. Friozinho tropical de maio. Vontade de não fazer nada. Fui.

domingo, 17 de maio de 2009

Brega sim e daí?

Para finalizar o domingo, me deu uma vontade assim de cantar uma música bem alto, acompanhando a original. Uma música dessas de fazer a gente dublar com qualquer coisa na mão servindo de microfone, como se a gente estivesse num palco, de olhos bem fechados e fazendo uma performance carregada de dor de cotovelo. No melhor estilo karaokê. Bem brega, eu sei. Mas que deu vontade, deu. Não vou negar.

Um dia eu ainda faço umas aulinhas de canto só para ver se eu solto o gogó e a cantora de cabaré que existe em mim. Afinal de contas, todo mundo tem seu lado brega.



A escolhida foi You're so Vain, da Carly Simon.

You walked into the party
Like you were walking onto a yacht
Your hat strategically dipped below one eye
Your scarf it was apricot
You had one eye in the mirror
As you watched yourself gavotte
And all the girls dreamed that they'd be your partner
They'd be your partner and

You're so vain
You probably think this song is about you
You're so vain
I'll bet you think this song is about you
Don't you? Don't you?

You had me several years ago
When I was still quite naive
Well, you said that we made such a pretty pair
And that you would never leave
But you gave away the things you loved
And one of them was me
I had some dreams they were clouds in my coffee
Clouds in my coffee, and

You're so vain
You probably think this song is about you
You're so vain
I'll bet you think this song is about you
Don't you? Don't you?

I had some dreams they were clouds in my coffee
Clouds in my coffee, and
You're so vain
You probably think this song is about you
You're so vain
I'll bet you think this song is about you
Don't you? Don't you?

Well, I hear you went up to Saratoga
And your horse naturally won
Then you flew your Lear jet up to Nova Scotia
To see the total eclipse of the sun
Well, you're where you should be all the time
And when you're not, you're with
Some underworld spy or the wife of a close friend
Wife of a close friend, and

You're so vain
You probably think this song is about you
You're so vain
I'll bet you think this song is about you
Don't you? Don't you?

O Mito e a anti-Caixa de Pandora

Quando eu escolhi o nome do meu blog foi pensando numa caixa contendo um monte de coisas que me fazem parar para pensar sobre elas, que me despertam alguma curiosidade. A liberdade de falar livremente sobre o que eu quisesse com os recursos da web para fazer pesquisas e citações combinavam com A Caixa de Pandora que eu idealizava e era associada diretamente à curiosidade que sempre me motiva. Gostaria de liberar só coisas boas da minha "caixa" em formato de blog.

Bom, eu tinha que me explicar um pouco, porque a Caixa de Pandora mitológica mesmo só continha coisas ruins. Guardava todos os males do mundo. O mito é super interessante. Tem a ver com a curiosidade feminina. Sempre, sempre associada ao mal, aos pecados, à danação, à tentação.

A Caixa de Pandora pode ser uma expressão quando se quer fazer referência a algo que gera curiosidade, mas que é melhor não ser revelado, porque pode vir a se tornar algo terrível. Vem do mito grego, que conta sobre a caixa que foi aberta por Pandora quando enviada a Epimeteu.

De acordo com a lenda, o titã Prometeu presenteou os homens com o fogo para que dominassem a natureza. Zeus, deus dos deuses do Olimpo, que havia proibido a entrega desse dom à humanidade, o condenou a ficar acorrentado no alto de uma montanha, onde todos os dias um abutre iria comer-lhe as vísceras que seriam regeneradas à noite, ficando ele fadado a sentir dor por toda eternidade. Antes, porém, Prometeu deixou uma caixa contendo todos os males que poderiam atormentar o homem com seu irmão Epimeteu, pedindo-lhe que não deixasse ninguém se aproximar dela. Nessa caixa havia um arsenal de desgraças criadas pelos deuses por encomenda de Zeus: a velhice, o trabalho, a doença, a loucura, a mentira, a discórdia, a guerra, a morte e a paixão. E apenas um único dom: a esperança.

Zeus então arquitetou sua vingança criando Pandora, a primeira mulher humana, feita sob medida para o castigo do homem e a enviou de presente ao titã Epimeteu (aquele que reflete tardiamente), irmão de Prometeu (aquele que prevê). Epimeteu não deu ouvido aos conselhos de não aceitar nenhum presente dos deuses e ficou com Pandora.

Vencida pela curiosidade, Pandora acabou abrindo a caixa, liberando todos os males no mundo. Mas a fechou antes que a esperança pudesse sair. Assim, o último e mais importante item permaneceu dentro da caixa. Essa metáfora foi a maneira encontrada pelos gregos para representar conceitos relacionados à natureza feminina, como a beleza, a sensualidade e o poder de dissimulação. Por isso a mulher ficou conhecida como o grande mal da humanidade. A história mitológica é semelhante à da bíblia cristã, que narra a criação do homem e da mulher (Adão e Eva). Onde a mulher também é a responsável pela desgraça humana.

Graças ao fechamento da caixa no momento certo, os homens sofreriam somente dos males que de lá sairam, mas não do conhecimento antecipado deles. Eles não viveriam o temor perpétuo dos males por vir, tornando suas vidas possíveis através da esperança.

Mas a pergunta que não quer calar é: O que fazia a esperança numa caixa onde só havia males? Que fazia tal jóia preciosa em meio a males como a doença e a morte, seus eternos inimigos? Teria sido colocada ali por engano? Seria ela o fruto de uma misteriosa misericórdia divina que ali introduzira, junto com todos os males, o alívio e o consolo para os mesmos?

Dando uma viajada no mito me veio, de repente, um pensamento trágico: Se a função da esperança é, basicamente, nos fazer suportar o sofrimento... então o motivo pelo qual ela estava contida na caixa era o de ser a corrente que manteria o homem firmemente atado aos seus sofrimentos... Putz! Então ela não seria um bem deslocado e perdido entre os males, mas sim um mal posto na caixa por Zeus, apenas com o intuito de fazer os homens, fracos e mortais, suportarem o sofrimento que lhes cabia por castigo! Assim como Prometeu, o homem estaria condendo à dor eterna e, por causa da sua natureza mortal, precisaria da esperança para suportá-la. Trágico, não?

Angelina Jolie fez a arqueóloga britânica toda-toda Lara Croft nos filmes da série Tomb Raider. Em "A Origem da Vida" ela precisa encontrar a própria Caixa de Pandora, contendo todos os males do mundo. O objeto está escondido em um local conhecido como Origem da Vida, localizado no continente africano. Sua missão é que enfrentar um cientista Prêmio Nobel que também está atrás da relíquia. O filme tem trilha sonora do U2 e ficou marcado pela música "Elevation" - hino da heroína.



De tudo o que postei aqui, acabei pensando em Hyeronimus Bosch, pintor holandês que sempre me impressionou. "O Jardim das Delicias" e "O Inferno" expostos no Museu do Prado são repletos de detalhes surreais que me causam alguma inquietação. Mas isso vale outro post. Aí eu explico porquê fui pensar nele.

Louise Brooks e a origem de Valentina

Mary Louise Brooks foi a primeira "it girl" do cinema. Do cinema mudo, by the way. Nascida em Kansas, em 1906, foi modelo, dançarina e escritora. Foi liberal, libertária e libertina.

Ela deu vida à trágica e impulsiva personagem Lulu no filme "A Caixa de Pandora", de G. W. Pabst (Alemanha, 1929) que gerou muita polêmica na época, por causa das atitudes de Lulu - uma mulher sexualmente livre. Também foi o primeiro filme a exibir uma cena de lesbianismo no cinema. Imagina isso em 1929! Ano do crash mundial da bolsa de valores e da grande depressão.

O filme foi muito mal recebido nos EUA. Mais tarde seria considerado um clássico e viria a imortalizar Louise Brooks como Lulu. Mas na época, ela acabou ficando mal vista e, de certa forma, colocada numa espécie de "lista negra" pelos grandes estúdios.


Além de considerada arrogante e atrevida, Louise Brooks era extrememente insegura, quase beirando a paranóia e se convenceu de que os estúdios estavam querendo humilhá-la. Desistiu de estrelar um filme com James Cagney, o que poderia ter revitalizado sua carreira cinematográfica, simplesmente porque preferiu ficar com o seu amante. Deixava seu superego de lado ao fazer declarações bombásticas. Não tinha pudores em posar para fotos ousadas ou atuar em filmes controversos para a sua época. E pagou um preço alto por isso. Largou precocemente o cinema em 1938, aos 32 anos de idade.

Nos anos seguintes, começou a escrever e teve diversos artigos publicados em revistas na Inglaterra, na França e no Canadá. Mas só três de seus artigos foram publicados nos EUA, um deles na revista Image, editada pela Eastman House. Assim como Hollywood não tinha sabido o que fazer com Louise, a atriz, a indústria editorial americana também não sabia onde encaixar Louise, a escritora.


Seus filmes com G. W. Pabst foram resgatados por críticos nos anos 50, quando já vivia reclusa em Nova Iorque, longe dos seus tempos de Hollywood. Morreu em 1985, aos 78 anos de idade.

O visual de Louise Brooks inspirou o desenhista italiano Guido Crepax a criar o personagem de quadrinhos eróticos mais famosa das HQ's, a milanesa Valentina.


Valentina Rosselli é uma fotógrafa independente, sexy e bem resolvida que se envolve com o crítico de arte Philip Rembrandt, que na verdade é um super-herói com poderes mediúnicos, com o codinome de Neutron, no melhor estilo 007.

Inicialmente ela era apenas uma coadjuvante nas tramas policiais protagonizadas por Neutron, mas foi aos poucos ganhando espaço e assumindo o papel principal nas histórias.

Criada em Milão, um dos focos do design, moda e comportamento do mundo, Valentina faz inúmeras referências à alta costura, com o seu corte de cabelo Chanel e o seu vestidinho Dior. Ela é linda, esguia e independente. O ambiente natural de Philip Rembrandt e Valentina Rosselli são salões repletos de artistas e intelectuais onde circulavam inúmeras referências literárias, musicais e artísticas da década de 60.

Com o tempo, no lugar dos enredos de trama policial, as histórias de Crepax foram ficando cada vez mais surreais e sensualmente oníricas. Valentina sonhava, nem sempre dormindo, com um mundo surreal, povoado por fantasias eróticas.

A obra de Guido Crepax influenciou toda uma geração de cartunistas como Milo Manara e Paolo Serpieri, mestres no gênero dos quadrinhos eróticos.

"A boca, os olhos e outras partes de Valentina, presentes em cortes e enquadramentos pouco comuns às HQs da época, trouxeram uma atmosfera cinematográfica e particular às histórias que, junto com seu conteúdo surreal, foram responsáveis por conferir ao trabalho de Crepax o status de arte".

Ah! Tem um documentário chamado Lulu in Berlin, no YouTube, que resgata a obra de Louise Brooks através de uma entrevista da atriz em 1974. Mostra uma mulher que apesar da passagem do tempo, permaneceu bela, lúcida e articulada. E exilada.

terça-feira, 12 de maio de 2009

James Bond e o Champagne

Eu só bebo champanhe quando estou feliz, e quando estou triste também. Às vezes eu bebo sozinha, mas quando estou acompanhada, considero obrigatório. Eu me distraio com champanhe quando estou sem fome e bebo quando estou faminta. Fora isso, eu nem toco nele, a menos que eu esteja com sede”.
Madame Lily Bollinger

Dizem que a bebida que mais traduz a sensualidade feminina é o espumante, em particular, o champanhe.

Madame Pompadour, amante de Luiz XV, no século XVIII, afirmou que “o champanhe é o único vinho que uma mulher pode beber e ainda continuar bonita”. Há uma historinha de que as meias-taças têm esse formato por terem sido esculpidas nos seios da cortesã.

James Bond, conhecido como o agente secreto britânico 007, criado por Ian Fleming em 1952, como um produto da Guerra Fria, é o protagonista que trabalha para o serviço de espionagem e inteligência MI-6. Entre goles de Bollinger, afinal seu gosto pelo espumante é expresso verbalmente em alguns filmes, ele vai fazendo bonito com as bond-girls.


O champagne é destaque em 12 filmes da série, desde “Viva e deixe morrer”, com Roger Moore até o mais recente “Quantum of Solace”, com Daniel Craig. Bond também é muito associado ao dry martini, drink de preferência do personagem.

Coincidências: Casino Royale, o 1ºromance de Ian Fleming narrando o início da carreira do 007, é de 1952. No mesmo ano, Madame Bollinger (ou Aunt Lily, para os íntimos), lançou o Bollinger R.D. - o rótulo de maior prestígio da vinícula.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Plenilúnio de Maio

"Não me envergonharia de pedir ao seu amor esmola, mas não quero que o meu verão resseque o seu jardim." Fernanda Young


Só um verso simples para não dizer que não postei nada. Tão lindo... De uma submissão que eu não tenho. E uma devastação que eu entendo. Je suis trés desoleé. Tive um dia mal acordado. Dormi bem, mas acordei assim. Num dia de tristezinha fina. "O problema é que quero muitas coisas simples, então pareço exigente". Só um pouco mais de Fernanda Young, tá? Gosto muito das coisas que ela diz. Não tive nada para dizer. Então usei as palavras e as imagens de outros alguéns.

As fotos são do Cartier Bresson. Gênio da fotografia dos anos 20 que fundou, junto com Robert Capa e outros profissionais da época, a agência de fotografias "Magnum", em 1947.

"A fotografia é ao mesmo tempo o reconhecimento de um fato numa fração de segundo e o arranjo rigoroso de formas percebidas visualmente, que conferem a esse fato expressão e significado".

Hoje meu humor se vestiu de preto-e-branco e passou um dia bem básico, de silêncio degustado e vontade de ficar só. Foi um dia de poucos sorrisos e hormônios apáticos. Foi outono dentro de mim. E uma lua cheia, imensa e amarela, boiava num céu de plenilúnio.

Pronto. Consegui encaixar a palavra plenilúnio em algo que eu queria dizer! Ô palavra bonita.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

A Maternidade e as Escolhas

Maternidade não é serviço militar obrigatório.
Deus nos deu um útero, mas o diabo nos deu o poder da escolha
Martha Medeiros


Filhos, é melhor não tê-los, mas se não os temos, como saber?"
Vinícius de Moraes

Não tê-los não é o problema. O problema é descartar essa experiência. Maternidade para mim é escolha. Ou pelo menos, deveria ser. Não se trata só da escolha de gerar, mas a de cuidar. É muito mais do que parir. E deveria ser sempre opcional. Em geral, transcende o limite do “eu”. A maternidade é própria do feminino. Vem dentro da gente e póde ser experimentada. É puro instinto. É sublimação, mas não é só renúncia. É a possibilidade de transmitir genes no tempo. É perpetuação. É espera. É um querer bem incondicional. É aceitação das diferenças. É passeio de montanha-russa. É ser protagonista e nunca coadjuvante. É nunca mais ser apenas uma. No início assusta, depois é como se nunca tivesse deixado de ser assim. Maternidade traz responsabilidades, mas não vem com manual de uso. É bem intencionada, mas imperfeita. E quando omissa, é figuração.

Eu não sou do tipo que acha que “ser mãe é padecer no paraíso”. Paraíso para mim é o Taiti, é a Grécia, é Fernando de Noronha. Mas algo acontece comigo quando o meu filho me olha com cara de referência, de cumplicidade. Faz eu me sentir uma pessoa melhor. Quando eu o vejo dormindo, sinto sempre uma paz profunda diferente de tudo. Quando os filhos dormem é que a gente percebe como eles crescem... Ter um par para dividir a escolha de ser mãe é realizador e pode ser muito especial, além de ser quase sempre mais fácil. Não importando se o par estará junto para sempre ou não. Ninguém deixa de ser mãe ou pai só porque não se está mais junto. Embora nem sempre seja assim. Mas o fato de não haver um par, nunca impediu uma mulher de ter filhos, se assim escolhesse. O fato de não poder ser uma concepção biologicamente tradicional, também não inviabiliza um projeto materno.

Óleo do Picasso chamado "Maternidade"


Pelo Dia das Mães que chega nesse domingo, um brinde de champagne às mulheres e suas escolhas. Às mulheres perfeitamente felizes com a escolha de não terem filhos e às que experimentaram a possibilidade de tê-los. A todas as mães imperfeitas, às que não puderam gerar e adotaram, às que não tiveram escolha, às que se planejaram, às que improvisaram, às nossas mães, às que já se foram e até às controladoras. Afinal, mãe é mãe. E quase sempre, são muitas numa só. Além do mais, toda mãe é mulher, e toda mulher é meio Leila Diniz.

Sobre minha vida, meu modo de viver, não faço o menor segredo. Sou uma moça livre. A liberdade é uma opção de vida”. Leila Diniz

terça-feira, 5 de maio de 2009

A Vida que Vale a Pena Ser Vivida

"Toda alegria é assim: já vem embrulhada numa tristezinha de papel fino". Millor F.

Descobri num site chamado Espaço Ética, os trechos de uma palestra cujo tema era "A Vida que Vale a Pena Ser Vivida", ministrada pelo professor de Ética, Clovis de Barros Filho. Os videos estão no Youtube também.

Resumo da Ópera: Se a filosofia tem como principal objeto a felicidade humana, então, de tudo o que a humanidade pode conhecer, o único saber que realmente importa é o viver bem. Mas o que seria uma vida feliz?





O discurso inflamado do Clovis vai de Platão a Nietzsche, fala sobre a vida e questiona se conduzimos nossa existência apenas para satisfazer nossa própria felicidade. O que não é nada improvável...









O Clóvis é um cara dramático. Faz desde uma apresentação performatica até um arrebatado discurso de conclusão. É passional. Com algum tempo e uma xícara de chá, vale à pena escutar o que ele diz.

Tive aulas com ele num curso cujo título era "A Geometria das Paixões". Genial.


domingo, 3 de maio de 2009

Saudações Rubro-Negras

Não entendo nada de futebol mas me empolguei com a decisão do jogo Flamengo x Botafogo. Final do campeonato carioca de 2009. Esse negócio de pênalti é muito angustiante, dá até palpitação. O time rubro-negro (adoro essa palavra) acaba de se tornar Penta-Tri Campeão. Que título engraçado! Mas é isso mesmo. O time é 5 vezes Tri Campeão desse campeonato.


Soube que o Fluminense tinha sempre um título a mais que o Flamengo no campeonato do Rio. E agora o Flamengo superou o Fluminense. Bem, eu não vou comentar mais nada porque realmente não entendo do assunto. Mas achei o jogo emocionante. Deixo aqui uma saudação rubro-negra.

Amanhã o Rio deve acordar bem humorado...

Eu teria postado uma musiquinha chamada "Aleluia é Nome de Mulher" - cantada pelo carioquíssimo Jorge Benjor e o Trio Mocotó - em homenagem ao título conquistado. Mas não vai ser mais possível anexar músicas nesse blog. Uma pena...

Express Yourself

"Our dreams, our desires and colorful aspirations need to be taken seriously, treated with importance. If you push them inside, you supress what's best in you. And in the end up: an empty man" Schieller

Estou inspiradíssima nesse final de semana e resolvi postar mil coisas que me vieram à cabeça. Uma necessidade assim... De me expressar integralmente.

Aí resolvi falar de uma música chamada Dreams, do Schiller. Na verdade, o Schiller é o nome de um projeto do alemão Christophen Von Deylen, que já existe desde 1999. Tem 5 discos de estúdio, entre eles o Voyage (ou Weltreise, de 2001), que eu curto muito, mas só conheci mesmo em 2005 com uma grande amiga.

O Schiller tem uma sonoridade bem atmosférica, chega a ser etérea. É agradável de se ouvir e mistura o instrumental com canções em alemão e em inglês.

Se puder, apague as luzes e aumente o som para ouvir a abertura de "Dreams". É de arrepiar. Eu não pude postar mas posso gravar.

Miuccia Prada e o design que vem da Italia

Com o tempo a gente a aprende a olhar as coisas de maneira mais estética. Passamos a enxergar as pessoas, filmes, objetos, pinturas, tudo de um modo mais crítico - consequência das nossas memórias visuais acumuladas. Tudo bem que moda é moda e arte é arte, mas é possível que uma peça de roupa tenha todo um conceito extraordinário por trás de uma aparente birutice. E é possível respeitar conceitos artísticos mesmo sem apreciá-los.

Eu acho que aprendi a enxergar referências. Entendo que tudo ao nosso redor se tornou “referência”. E essas referências podem ser percebidas nos diferentes códigos de comportamento. Estão no modo de agir, de pensar, no "body language", no modus vivendi de cada pessoa. Chato é quando somos vitimizados por isso, como se não produzíssemos mais opinião. A naturalidade é sempre melhor. Mas todos encontram as suas referências. O que, sem dúvida, impulsiona o consumismo. Afinal é desse mundo que a gente faz parte, ora... Então, não sejamos hipócritas. E como o aprender nunca se esgota, hoje eu sei que Yves Saint Laurent deixou um legado importante e que Ronaldo Fraga é quase sempre poesia . Estou sempre aprendendo.

Acho que o design e a moda que vêm da Itália são particularmente belos, elegantes e sedutores. A Itália sempre teve uma preocupação estética. É uma coisa histórica. Desde os grandes mecenas, sua arquitetura grandiosa, sua dramaticidade, seu Renascimento iluminado. A Itália sempre pulsa. Só de estilistas, a Itália tem: Giorgio Armani, Gianni Versacci, Casa Gucci, Miuccia Prada, Domenico Dolce e Stefano Gabbana, Ermenegildo Zegna, Emilio Pucci... Aí eu resolvi falar de Miuccia Prada.

I love fashion, but I think it should stay in its place, not rule your life. It’s a very nice part of your life, but I think it should be fun.” Miuccia Prada


A Prada foi fundada em 1913 por Mario Prada. No início produzia artigos de couro para famílias ricas e influentes de Milão como malas e bolsas. Apesar da marca conceituada e dos produtos de alta qualidade, ainda levou algumas décadas para o negócio familiar se estabelecer como uma das maiores casas de moda italianas.


Em 1978, Miuccia Prada, neta do fundador, assumiu a direção da grife. Uma mulher, no mínimo, interessante. Foi ligada ao teatro e à política. Atuou como militante do Partido Comunista, liderou um movimento pelos direitos da mulher, trabalhou cinco anos fazendo mímica no Teatro Piccolo, em Milão, e obteve um diploma de doutorado em Ciências Políticas. Nada a habilitava para estar no controle de um império como a grife Prada. Ela realmente não parecia ser a pessoa mais indicada a assumir esse papel. Mas mostrou uma inegável vocação para o assunto. E até hoje possui um gosto pelo paradoxo. Tudo é retrô e avant-garde nas suas coleções. Tal como ela.

Miuccia Prada tinha 28 anos quando decidiu, cismou mesmo, que iria usar o náilon Pocono - um material usado em tendas militares - para criar uma mochila. Essa aí da foto. Lembra disso? Mais ou menos em 1985. O couro era uma tradição familiar da Casa Prada e esta decisão foi bem arriscada. Foi logo no início da gestão de Miuccia. Mas a mochila de náilon Pocono acabou virando um ícone fashion. E chegou até por aqui pelo Brasil!

Por trás das passarelas está Patrizio Bertelli, marido de Miuccia e CEO do grupo Prada, que inclui as marcas Miu Miu -voltada para um público mais jovem - Helmut Lang e Jil Sander. Foi dele a idéia de lançar a primeira coleção de roupas e sapatos Prada, em 1988. E também a criação da Miu Miu, em 1993, e da Prada Sport.

A Prada popularizou a moda e virou convenção internacional do cool. Essa frase não é minha não. Mas define a marca super bem. Os sapatinhos são de pirar.





Olha o óculos borboleta!

sábado, 2 de maio de 2009

Divã: Leia o livro e veja o filme

"Se ser feliz para sempre é aceitar com resignação católica o pão nosso de cada dia e sentir-se imune a todas as tentações, então é deste paraíso que eu quero fugir."
Em "Divã", de Martha Medeiros.

Fui assistir ao filme "Divã" baseado no romance de mesmo nome que li da Martha Medeiros. Aliás, eu vi a peça também. Dei boas risadas. Tem coisa melhor do que isso? Acho que todo mundo acaba se identificando um pouco com a história. Eu não costumo gostar muito do senso comum. Em geral torço o nariz para aqueles pensamentos que têm o consenso de 100% da população. Concordo com Nelson Rodrigues na certeza de que toda unanimidade é burra. Mas no caso do filme em questão, que virou um sucesso pipoca do cinema nacional, eu abri uma exceção.






A atriz Lilia Cabral está ótima fazendo o papel da mulher que se parece um pouco com qualquer mulher. A questão da amizade feminina no filme é comovente.



O romance conta a história dessa mulher, de mais de 40 anos, casada, 2 filhos que resolve fazer análise. O que começa sem pretensões acaba por se transformar num ato de libertação. O texto é divertido e facilmente identificável com a vida real.

A terapia começa assim: "Sou tantas que mal consigo me distinguir. Sou estrategista, batalhadora, porém traída pela comoção. Num piscar de olhos fico terna, delicada. Acho que sou promíscua, doutor Lopes. São muitas mulheres numa só e alguns homens também. Prepare-se para uma terapia em grupo."


"Onde é que eu estava com a cabeça de achar que a gente muda o que sente e que bastaria apertar um botão que as luzes se apagariam e eu voltaria à minha vida satisfatória, sem seqüelas, sem registro de ocorrência? Eu não amei aquele cara. Eu tenho certeza que não. Eu amei a mim mesma naquela verdade inventada. Não era amor, era uma sorte. Não era amor, era uma travessura. Não era amor, eram dois celulares desligados. Não era amor, era de tarde. Não era amor, era inverno. Não era amor, era sem medo. Não era amor, era melhor.” Outro trecho de Divã.

Eu sou louca pelos textos da Martha Medeiros. Ela virou uma espécie de gurua. Quase sempre eu me pego concordando com o que ela escreve como se ela traduzisse os meus pensamentos. Sou viciada na coluna que sai aos domingos no Globo. Para finalizar, outra frase de efeito da Martha, só que essa não é do filme:

"Tem muita gente que se distrai e é feliz pra sempre, sem conhecer as delícias de ser feliz por uns meses, depois infeliz por uns dias, felicíssimo por uns instantes, em outros instantes achar que ficou maluco..."

sexta-feira, 1 de maio de 2009

A Casa do Saber

"A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao seu tamanho original". Albert Einstein

A Casa do Saber é um espaço para palestras e oficinas de estudo sobre os mais diversos temas em artes plásticas, filosofia, literatura, história, música e psicanálise. Reúne professores e conferencistas com cabeças pensantes interessantíssimas. Lá se privilegia o pensamento. No Rio, a Casa fica em frente à Lagoa Rodrigo de Freitas e tem um ambiente extra-acadêmico bem simpático. Tem em SP também.


Fiz alguns cursos nesse 1º trimestre de 2009 e fiquei encantada com as palestras, com a forma inteligente e bem humorada como são conduzidas. Provocam a imaginação. Abrem uma portinha de conhecimento. Fiquei realmente empolgada com a proposta dos temas. Em Filosofia fiz: A História das Religiões e A Geometria das Paixões. Impactantes. Geniais. Divertidos.

Agora comecei esse aqui: GRANDES IDÉIAS E MARCOS DA HISTÓRIA DAS CIÊNCIAS. Ministrado por Luiz Alberto Oliveira. Um cara que é Físico, doutor em Cosmologia e pesquisador do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF/MCT), onde também atua como professor de História e Filosofia da Ciência. Outra palestra interessante.

Na 1ª aula falou-se sobre as origens da ciência: As raízes míticas da cultura. Os plantadores e caçadores dos primórdios da humanidade. A observação do céu e o manejo da terra. A origem da civilização. As cosmogonias míticas. Foi tanta informação interessante... Falou-se da Ilíada, da glória de ter a morte cantada em versos, dos mitos de Hermes e Artemis, de Cronos e o tempo histórico e o tempo dos mitos, da invasão bárbara da Grécia e como alguns mitos gregos foram parar na Irlanda, por exemplo. Dos mitos indonésios, do surgimento do homem no norte da Àfrica. Como o homem vagou pelo mundo em transformação, das condições do nosso planeta, do processo de homogeneidade que a nossa civilização está passando. Tudo assim numa prosa leve, às vezes engraçada, que transmite credibilidade. Instiga a curiosidade. Muito legal.

Um pouco sobre um dos mitos comentados:

Cronos era um deus da mitologia pré-helênica ao qual se atribuíam funções relacionadas com a agricultura. Mais tarde, os gregos o incluíram em sua Cosmogonia, mas lhe deram um caráter sinistro e negativo.

Na mitologia grega, Cronos era filho de Urano (o céu) e de Gaia (a terra). Incitado pela mãe e ajudado pelos irmãos, os Titãs, castrou o pai - o que separou o céu da terra - e tornou-se o primeiro rei dos deuses. Seu reinado era ameaçado por uma profecia segundo a qual um de seus filhos o destronaria. Para que esta não se cumprisse, Cronos devorava todos os filhos que tinha com sua mulher, Réia, até que ela conseguiu salvar Zeus.

Cronos simbolizava o tempo e por isso Zeus, ao derrotá-lo, conferiu a imortalidade aos deuses. Os romanos associaram Cronos a Saturno e diziam que, ao fugir do Olimpo, ele teria levado a agricultura para Roma, recuperando suas primitivas funções agrícolas.

Esse aí é um quadro do Goya, que está exposto no Museu do Prado, em Madrid, representando Saturno (Cronos) devorando um filho. É uma figura assombrosa e uma das pinturas a óleo sobre reboco que pertence à série das Pinturas Negras do autor. Mas isso dá um outro post.

O mito de Hérmes e Artemis também foi bem interessante. Mas isso também dá outro post.

Frase dita lá no curso: "Somos seres que observam o céu ao longo do tempo histórico".