quarta-feira, 29 de julho de 2009

Stand by me

Tentando retornar das minhas cavernas interiores... Tanto tempo sem escrever aqui...

Há um tempo ando como uma folha em branco. Blackout criativo. Ando muito mais imagem do que texto e na falta do que dizer, poetizei em imagens a letra de "Stand by me", do John Lennon. Não, não é por acaso. Eu gosto de fazer essas coisas. Mas é que é especialmente bom saber que alguém se importa de verdade com você. Que existe alguém com quem se pode contar nos momentos de enfrentamento daquelas verdades insuportáveis e que conhece o pior lado do seu ser e te aceita mesmo assim. The dark side. Em homenagem a todo querer bem, a todo o amor verdadeiramente existente e que nem sempre parece excitante e divertido, mas que stands by you.

Como diria Nelson Rodrigues: "Pouco amor, não é amor".

When the night has come


And the land is dark.


And the moon is the only light we see...


No, I won't be afraid!


Just as long as you stand, stand by me.

And darling, darling, stand by me!


Stand by me. Stand by me. Stand by me.


If the sky that we look upon


Should tumble and fall


And the mountains should crumble to the sea


I won't cry!


No, I won't shed a tear.


Just as long as you stand, stand by me.


And darling, darling, stand by me!


Stand by me, stand by me, stand by me.


Whenever you are in trouble won't you stand by me?


Stand by me!


Stand by me.


Stand by me .



sábado, 4 de julho de 2009

Um café da manhã completo para 5 titânicas cabeças

Na longa história da espécie humana (e do gênero animal, também), prevaleceram os indivíduos que aprenderam a colaborar e a improvisar com mais eficácia.” Charles Darwin

Sexta-feira tive uma reunião fora do escritório interessante. Não foi aquele desperdício de tempo que muitas reuniões do mundo corporativo produzem e que não levam à conclusão alguma ou a qualquer ação efetiva depois. Não foi puro blá blá blá.

Foi numa manhã fria que terminou em sol, começando com um café da manhã, no Cafeína, da Farme de Amoedo.

Éramos 5 pessoas que trabalham juntas que se reuniram para discutir metas individuais e as da área como um todo para o 2º semestre de 2009. Fizemos avaliações e reflexões de 1 ano de trabalho e de nossas atividades. Coisas do mundinho corporativo, sem dúvida. Mas foi civilizado, verdadeiro. Não teve nenhuma baboseira ou hipocrisia.

Até porque embromação não é característica da mulher lidera essa equipe na qual me incluo. Minha chefe é uma mulher um pouco mais jovem do que eu. É uma leonina determinada, exigente. Um pessoa naturalmente desconfiada e reservada. Mas com quem eu sempre tive empatia. Ela tem um lado workaholic e um outro esotérico, pouco conhecido, que se equilibram. Tem dias que ela fica azeda. Nessa reunião foi ótimo falar com as pessoas ali envolvidas e escutar o que elas tinham para dizer, e ainda demos um retorno para
a promotora do acontecimento. O que é justo, mas nem sempre aceito por pessoas que gerenciam outras. Como já dei muitas cabeçadas pelo desafio aceito de ter ido trabalhar com ela, foi gratificante o retorno desse encontro de trabalho.

E com direito a um capuccino maravilhoso e ovos mexidos! Huuummmm, eu adoro ovos mexidos de manhã. Tudo fica melhor.

Iniciativas assim, sem lero-lero, são maduras e devem ser cobradas por quem paga o nosso salário. Minha equipe de trabalho é pequena. Eclética. Os indivíduos se querem bem, aparentemente. Mas são todos bem diferentes entre si e se respeitam mutuamente.Vive la difference!

Tirando um dia ou outro em que revezamos no ápice da chatice, todos têm alegrias, raiva, motivação, desânimo, gripe, ansiedade, mau humor, senso de humor, dor de cotovelo, problemas domésticos, problemas mais sérios, insatisfações, pouco tempo, preguiça, cansaço, saudades, prazeres, vaidades, delícias e por aí vai.

E todos discutem as características astrológicas um do outro porque acreditam mais ou menos nas mesmas coisas. E eu ainda descobri que meu Vênus também está em Gêmeos. Eu realmente tenho uma oversose de gêmeos no meu mapa astral... Too much... Num outro post eu explico isso melhor.

Reflexões sobre a Beleza no Brasil

" A beleza é uma carta aberta de recomendação."
(Arthur Schopenhauer)

Ainda dividindo os estudos da Miriam Goldemberg publicados no livro "Coroas" - aquele que eu ganhei de aniversário de uma amiga verdadeiramente ruiva- e pelo qual eu fiquei completamente fascinada, transcrevo aqui um dos temas do livro, que propõe discutir a idéia da autora de que no Brasil o corpo é um capital.

Vou fazer isso usando imagens de pinturas e xilografias de Matisse e Modigliani. Simplesmente porque expressam beleza e sensualidade - meus objetos de atenção agora.

"Na cultura brasileira contemporânea, determinado tipo de corpo é uma riqueza. Talvez a mais desejada pelos indivíduos das camadas urbanas e também das camadas mais pobres, que percebem "o corpo" como um importante veículo de ancensão social. Nesse sentido, além de um capital físico, o corpo é um capital simbólico, um capital econômico e um capital social. Desde que seja um corpo jovem, sexy, magro e em boa forma, que caracteriza como superior aquele ou aquela que o possui, conquistado, na maioria das vezes, por meio de muito investimento financeiro, trabalho e sacrifício".

A partir dessa idéia, Miriam Goldemberg reflete sobre o significado do envelhecimento feminino na sociedade brasileira. Em uma cultura em que o corpo é percebido como um capital no mercado de casamento, no mercado sexual e no mercado profissional, o envelhecimento torna-se um motivo de forte ansiedade e medo para as brasileiras.

Para o sociólgo Pierre Bourdieu, que inspirou as reflexões da autora, os capitais econômico, cultural. social, político, simbólico e físico são os poderes que definem as probabilidades de ganho num campo determinado. O que leva Miriam Goldemberg a acreditar que o corpo funciona como um importante capital nos mais diversos campos, sendo o corpo um bem simbólico que pode receber valores muito diferentes dependendo do mercado em que está inserido.

Pierre Bourdieu constata que as atitudes corporais consideradas "naturais" são, na verdade, naturalmente "cultivadas". O que se denomina charme, porte, sofisticação, elegância, por exemplo, é a maneira legitimada socialmente de se levar o próprio corpo, de apresentá-lo, de considerá-lo, muitas vezes através da imitação que os indivíduos de cada cultura constroem de seus corpos e comportamentos.

Para Marcel Mauss, há uma construção cultural do corpo, com uma valorização de certos atributos e comportamentos em detrimento de outros, fazendo com que haja um corpo típico para cada sociedade. Esse corpo, que pode variar de acordo com o contexto histórico e cultural, é adquirido pelos membros de uma sociedade por meio da "imitação prestigiosa". Os indivíduos imitam atos, comportamentos e corpos que obtiveram êxito e que têm prestígio em sua cultura.

No caso das brasileiras, as mulheres mais bem-sucedidas e imitáveis são, atualmente, as atrizes, modelos, cantoras e apresentadoras de televisão - todas elas tendo o corpo como capital ou uma de suas mais importantes riquezas.


Antropologicamente, Gilberto Freyre, o autor de "Casa Grande e Senzala", numa matéria entitulada "Uma Paixão Nacional", tenta explicar as raízes culturais da preferência masculina brasileira pela bunda.

Ele comparou as indígenas e as afro-negras, dotadas de nádegas descritas como "notavelmente protuberantes ou salientemente grandes" que não poderiam deixar de provocar o imaginário masculino brasileiro, "sensível à imensidade de provocações frutificadas pela convivência entre essas raças".

O corpo nú das índias e o corpo forte da negra escrava eram desejados e usufruídos pelo corpo hipersexualizado do colonizador português. O encontro entre senhores e escravos no Brasil foi harmonioso e basicamente sexual.

A representação do Brasil como um paraíso tropical e sexual, presente na visão dos estrangeiros e dos próprios brasileiros, se mantém até os dias de hoje, reforçada pelas imagens dos corpos seminus nas praias e ostensivamente expostos durante o Carnaval.

O ideal de beleza miscigenado, defendido por Gilberto Freyre, permanece até os dias de hoje. Mas vem sofrendo um impacto europeizante e albinizante, imposto pelo padrão nórdico, considerando a loirice como um estilo, um jeito de vencer na vida.

Ser loira em um país de morenas é uma maneira de se sobressair e de atender ao gosto colonizado e diversificado do sexo oposto.

Nas últimas duas décadas, a preocupação com o rejuvenescimento cresceu enormemente e novos modelos de mulher passaram a ser imitados: o das mulheres jovens, belas, magras e loiras.

Uma curiosidade maluca beleza:

"Se a sua pele é clara e lisa, pode ser que você tenha níveis elevados de endocanabinóides, uma substância similar ao THC, o responsável pelo “barato” da maconha. Segundo o Journal of the Federation of American Societies for Experimental Biology, assim como o THC protege a planta Cannabis dos raios ultravioleta e das pragas, a versão humana blinda a pele contra bactérias e vírus. Mais pesquisas podem criar cremes à base do composto".

Ah! Eu ainda quero comentar sobre essa coisa de ser genuinamente ruiva. Num país tropical como o nosso, ser ruiva é uma raridade, uma coisa singular. Mas isso dá outro post com certeza.

"Não me amarra dinheiro, não, mas formosura. Dinheiro não, a carne escura. Dinheiro não, a carne dura."
Caetano Veloso, "Beleza Pura"

O Pálido Ponto Azul em que Vivemos

"Não é possível convencer um crente de coisa alguma, pois suas crenças não se baseiam em evidências; baseiam-se numa profunda necessidade de acreditar."

A frase acima é de Carl Sagan, um norte-americano que foi professor de astronomia e ciências espaciais na Cornell University e autor de diversos livros e artigos. Ele também apresentava a série de TV chamada "Cosmos".

Dedicou sua vida ao desenvolvimento e à divulgação da ciência e desempenhou um papel incomum como "homem da ciência". Foi capaz de comunicar-se tanto com seus pares quanto com o público leigo, o que é muito raro no mundo científico.

Ele foi uma dessas pessoas que inquietam, perturbam, questionam e, por isso mesmo, ajudam a expandir e a transformar a percepção que se tem da vida, dos seres e das coisas. Eu tenho e recomendo a leitura de "O Mundo Assombrado pelos Demônios", que fala sobre a relação existente entre a ciência e as pseudociências. A melhor sinopse encontrada na web para descrevê-lo mais resumidamente foi essa: "...Carl Sagan descreve o misticismo, as soluções que renunciam à compreensão do mundo em favor das especulações sem base na experiência sensível..." E por aí vai.

Eu faço o tipo de leiga que se interessa por aquelas coisas que não se consegue compreender. Sou movida pelas minhas ambições e curiosidades. E limitada pelas minhas frustrações e impotências. Ainda assim gosto de pensar sobre o desconhecido, questiono crenças que não podem ser comprovadas e sobre a nossa solidão nesse vasto universo que nos cerca. Não me conformo com teorias simplistas do tipo: "E Deus criou o universo". Tá. Só isso? Nada mais? E aí, ele não fez mais nada? E Deus fazia o que antes de criar o universo? Não dá para engolir tamanho conformismo. Tenho admiração pelas descobertas humanas, pelo que há de cósmico lá fora. Gosto de pensar que todos nós somos feitos da poeira das estrelas. É uma forma poética - e que não deixa de ser verdadeira - de se imaginar a origem da vida. Mas jamais ousaria questionar a Teoria da Evolução de Darwin. E essa pode ser comprovada.

Lembro que quando criança e eu era obrigada a dormir mais cedo do que gostaria, ficava imaginando como seria o universo antes do Big Bang. Eu tentava imaginar um começo que tinha que existir. O que me levava ao infinito. E se eu pensasse para a frente também era infinito. Fechava os olhos bem apertados e via as várias cores diferentes que mudavam na minha visão interna. Já fizeram isso? Depois de um certo tempo, a escuridão que se vê internamente vai mudando de cor. Então eu ficava pensando: antes de ser tudo preto como seria? Tudo branco? E antes de tudo branco? Azul? E antes de tudo azul? Roxo? Vermelho? Era melhor do que contar carneirinho, coisa que eu acho que criança alguma jamais fez ou fará. Eu acabava dormindo porque percebia que eu ia andar para trás infinitamente. E o infinito ia me dando o maior sono.


Num dia de reflexões profundas como as de hoje, que vão além dos sapatinhos e vestidinhos que eu tanto gosto de usar e desejar nessa minha vidinha mundana, resolvi compartilhar dois vídeos bem conhecidos do Youtube. Um é narrado pelo Carl Sagan chamado "O Pálido Ponto Azul", falando das imagens captadas pela espaçonave Voyager, cuja transcrição coloquei aqui embaixo. O outro é para ilustrar a enorme insignificância do nosso planeta diante da imensidão cósmica em que ele bóia, comparando-o com outros planetas e estrelas.

É aí que a gente percebe o quanto é desnecessária toda essa nossa soberba, vaidade, arrogância e materialidade. Ainda que seja utópico imaginar relações humanas sem essas características. É aí que reside toda a nossa complexidade. Nós nos achamos o centro do universo. Porque não conseguimos imaginar ou pensar de maneira diferente disso. Não há uma experiência consciente nesse sentido. Porque somos miseravelmente humanos. Demasiadamente humanos, como diria Nietzsche.



"A espaçonave estava bem longe de casa. Eu achei que seria uma boa idéia, logo depois de Saturno, fazer ela dar uma ultima olhada na direção de casa. De Saturno, a Terra apareceria muito pequena para a Voyager captar qualquer detalhe, nosso planeta seria apenas um ponto de luz, um "pixel" solitário, dificilmente distinguível de muitos outros pontos de luz que a Voyager avistaria: Planetas vizinhos, sóis distantes. Mas justamente por causa dessa imprecisão de nosso mundo assim revelado, valeria a pena ter tal fotografia.

Já havia sido bem entendido por cientistas e filósofos da antiguidade clássica, que a Terra era um mero ponto de luz em um vasto cosmos circundante, mas ninguém jamais a tinha visto assim. Aqui estava nossa primeira chance, e talvez a nossa última nas próximas décadas. Então, aqui está - um mosaico quadriculado estendido em cima dos planetas, e um fundo pontilhado de estrelas distantes.

Por causa do reflexo da luz do sol na espaçonave, a Terra parece estar apoiada em um raio de sol. Como se houvesse alguma importância especial para esse pequeno mundo, mas é apenas um acidente de geometria e ótica. Não há nenhum sinal de humanos nessa foto. Nem nossas modificações da superfície da Terra, nem nossas máquinas, nem nós mesmos. Desse ponto de vista, nossa obsessão com nacionalismo não aparece em evidência. Nós somos muito pequenos. Na escala dos mundos, os humanos são irrelevantes, uma fina película de vida num obscuro e solitário torrão de rocha e metal.

Agora considere novamente esse ponto. É aqui. É esse o nosso lar. Somos nós. Nele, todos que você ama, todos que você conhece, todos de quem você já ouviu falar, todo ser humano que já existiu, viveram suas vidas. A totalidade de nossas alegrias e sofrimentos, milhares de religiões, ideologias e doutrinas econômicas, cada caçador e saqueador, cada herói e covarde, cada criador e destruidor da civilização, cada rei e plebeu, cada casal apaixonado, cada mãe e pai, cada criança esperançosa, inventores e exploradores, cada educador, cada político corrupto, cada "superstar", cada "lider supremo", cada santo e pecador na história da nossa espécie viveu ali, em um grão de poeira suspenso em um raio de sol.

A Terra é um palco muito pequeno em uma imensa arena cósmica. Pense nas infindáveis crueldades infringidas pelos habitantes de um canto desse pixel, nos quase imperceptíveis habitantes de um outro canto, o quão frequentemente seus mal-entendidos, o quanto sua ânsia por se matarem, e o quão fervorosamente eles se odeiam. Pense nos rios de sangue derramados por todos aqueles generais e imperadores, para que, em suas glória e triunfo, eles pudessem se tornar os mestres momentâneos de uma fração de um ponto.

Nossas atitudes, nossa imaginária auto-importancia, a ilusão de que temos uma posição privilegiada no Universo, é desafiada por esse pálido ponto de luz. Nosso planeta é um espécime solitário na grande e envolvente escuridão cósmica. Na nossa obscuridade, em toda essa vastidão, não há nenhum indicio de ajuda que possa vir de outro lugar para nos salvar de nós mesmos. A Terra é o único mundo conhecido até agora que sustenta a vida. Não há lugar nenhum, pelo menos num futuro próximo, no qual nossa espécie possa migrar. Visitar, talvez, se estabelecer, ainda não. Goste ou não, por enquanto, a Terra é onde estamos estabelecidos.

Foi dito que a astronomia é uma experiência que traz humildade e constrói o caráter. Talvez, não haja melhor demonstração das tolices e vaidades humanas do que essa imagem distante do nosso pequeno mundo. Ela enfatiza nossa responsabilidade de tratarmos melhor uns aos outros, e de preservar e estimar o único lar que nós conhecemos... o pálido ponto azul."

Agora, a comparação de nosso planeta com outros astros... Simplesmente amazing!



"Se não existe vida fora da Terra, então o universo é um grande desperdício de espaço".
Carl Sagan.1934-1996.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Reflexões sobre a Maldade

"Odeio as almas estreitas, sem bálsamo e sem veneno, feitas sem nada de bondade e sem nada de maldade". Nietzche

O aforismo acima resume mais ou menos o que eu penso sobre gente boazinha demais. Certinha demais. Passiva demais. Carola demais. Ao menos uma transgressãozinha se faz necessária, de vez em quando.



Gente que pede desculpa demais, que é apática demais, que não protesta por ser mal tratada pelos serviços que paga ou tem direito, que não questiona a rotina, que não tem senso de humor, que sempre te devolve a pergunta feita, que aceita tão pouco de tudo, que não tem uma opinião sobre nada, gente tanto faz. Gente que não colabora com ninguém só porque se sente bonzinho e normal o bastante, e assim não sai nunca da cômoda posição de não fazer nada com a desculpa de que é apenas um sujeito ou sujeita normal.

Arre! Bonzinhos me dão nos nervos. Bonzinhos não são pura bondade. São insossos. Sem graça. Não são doces. São como água com aspartame. Não têm nada para contar. Parecem normais demais. Como diria Oscar Wilde: "A normalidade é uma ilusão imbecil e estéril".

Historicamente, os defensores ferrenhos do bem sempre fizeram muito mal à humanidade.




Desconfio dos muito normaizinhos. De perto ninguém é normal. E eu prefiro as maluquices que eu detecto logo de cara.

Maldadezinhas reprimidas em bonzinhos, em geral, são mal canalizadas por pura falta de extravazo. Todo mundo sabe que de perto ninguém é normal.

Nos contos e nos filmes existe sempre um vilão de peso para levar a história, criar um conflito. Caso contrário seria um eterno e entediante "felizes para sempre". A complexidade dos vilões é sempre mais interessante do que a dos mocinhos e mocinhas. Suas personalidades, suas malignidades, suas tramóias, justificam o sofrimento dos heróis e protagonistas. Os excêntricos também estão fora da caixa dos bonzinhos desinteressantes. Não são previsíveis. Não têm um final feliz determinado.

Eu não sou encrenqueira, mas também não finjo que não sou quando algo me soa muito absurdo. Cada um tem seu limite para a tolerância. Eu simplesmente não consigo ficar calada em determinadas situações. Não é inteligente. É estúpido. Eu sei. O impulso é burro. Não é calculado. Refletido. Eu sei. Adoraria ser uma pessoa mais calculista, estratégica, concentrada, menos agitada. Eu não deixo de ser polida, mas sei que falo demais. Costumo ter bons argumentos. Sou bem capaz de irritar alguém só pela minha argumentação. Nem sempre estou certa. E muitas vezes não estou errada. C'est la vie.
O fato é que eu desconfio de bonzinhos demais. Atraio e sou atraída e por gente complexa, que muda, que se deprime, que dá volta por cima, que sofre, que vibra, que critica e ri de si mesma. Considero muito importante saber rir de si mesmo.

Por falar em maldade, em " Onde os fracos não têm vez", filme dos Irmão Coen, as frases do personagem de Tommy Lee Jones, o xerife, combinam piadinhas irônicas com reflexões sobre o tempo e o sentido do bem e do mal. Mas a violência do filme é algo, assim, que surge e se instala. Não pede passagem, não pede licença.

No filme, o psicopata, interpretado por Javier Bardem, possui um tipo de crueldade exponenciada, muito acima de qualquer normalidade, está sempre de preto e é um cara de pouquíssimas palavras, absolutamente sinistro.

Acho que o ator deve se sentir estranho e esgotado interpretando um tipo maligno e esquisito como esse.

O jogo de cara e coroa, usado para decidir se deve ou não matar uma pessoa, personificando um mensageiro do destino, e a naturalidade com que faz isso, assustam pela frieza. O cara usa uma arma de ar comprimido para não deixar vestígios. E revela um tipo de brutalidade sem a menor preocupação com as convenções existentes até para se cometer crimes. O mal in natura.

Uma coisa é certa: o mal só existe, porque o bem coexiste. Como o yin e o yang. Sempre se complementam.

"A nossa geração não lamenta tanto os crimes dos perversos quanto o estarrecedor silencio dos bondosos". Martin Luther King

Saudade e Nostalgia

O regresso, em grego, quer dizer nóstos e trata-se de um vocábulo que apareceu em A Odisseia de Homero. Álgos significa dor, sofrimento, aflição.

A nostalgia é portanto, o sofrimento causado pelo desejo insastisfeito de regressar.

Os tchecos utilizam o substantivo stesk, e o verbo com sonoridade semelhante que em sua mais comovente expressão de amor significa:
"Stýská se mi po tobe".
Que quer dizer exatamente:
"Tenho nostalgia de ti.
Não posso suportar a dor da tua ausência".

Achei bonito de doer. Agradeço até hoje por ter conhecido essa expressão.

"Há uma atmosfera utópica e imaginária na nostalgia, algo próximo do que se gostaria que tivesse acontecido no tempo que se foi, e de como desejaríamos ter vivenciado determinadas experiências.

Ela surge justamente da incapacidade de retornarmos ao passado e agir de forma diferente em diversas situações".

É diferente da saudade - a emoção intensa e dolorosa, despertada pela ausência de alguém que se ama
ou lhe é muito querido.
A saudade desaparece assim que encontramos essa pessoa.

Já a nostalgia não cessa quando nos deparamos com alguém que estava distante de nós,
ao contrário, ela aumenta,
pois nutre este sentimento de perda,
de uma época que não mais retornará.

Milan Kundera, autor tcheco que eu aprecio muito, diz:

"Nossa memória só é capaz de reter uma pequena parcela do passado, sem que ninguém saiba por que precisamente essa e não outra. Vivemos imersos num grande esquecimento e não nos preocupamos com isso".

E ainda arremata de acordo com a Teoria do Eterno Retorno:

O homem, porque não tem senão uma vida, não tem nenhuma possibilidade de verificar a hipótese através de experimentos, de maneira que não saberá nunca se errou ou acertou ao obedecer a um sentimento. Tudo é vivido pela primeira vez e sem preparação. Como se um ator entrasse em cena sem nunca ter ensaiado”.