quarta-feira, 1 de julho de 2009

Reflexões sobre a Maldade

"Odeio as almas estreitas, sem bálsamo e sem veneno, feitas sem nada de bondade e sem nada de maldade". Nietzche

O aforismo acima resume mais ou menos o que eu penso sobre gente boazinha demais. Certinha demais. Passiva demais. Carola demais. Ao menos uma transgressãozinha se faz necessária, de vez em quando.



Gente que pede desculpa demais, que é apática demais, que não protesta por ser mal tratada pelos serviços que paga ou tem direito, que não questiona a rotina, que não tem senso de humor, que sempre te devolve a pergunta feita, que aceita tão pouco de tudo, que não tem uma opinião sobre nada, gente tanto faz. Gente que não colabora com ninguém só porque se sente bonzinho e normal o bastante, e assim não sai nunca da cômoda posição de não fazer nada com a desculpa de que é apenas um sujeito ou sujeita normal.

Arre! Bonzinhos me dão nos nervos. Bonzinhos não são pura bondade. São insossos. Sem graça. Não são doces. São como água com aspartame. Não têm nada para contar. Parecem normais demais. Como diria Oscar Wilde: "A normalidade é uma ilusão imbecil e estéril".

Historicamente, os defensores ferrenhos do bem sempre fizeram muito mal à humanidade.




Desconfio dos muito normaizinhos. De perto ninguém é normal. E eu prefiro as maluquices que eu detecto logo de cara.

Maldadezinhas reprimidas em bonzinhos, em geral, são mal canalizadas por pura falta de extravazo. Todo mundo sabe que de perto ninguém é normal.

Nos contos e nos filmes existe sempre um vilão de peso para levar a história, criar um conflito. Caso contrário seria um eterno e entediante "felizes para sempre". A complexidade dos vilões é sempre mais interessante do que a dos mocinhos e mocinhas. Suas personalidades, suas malignidades, suas tramóias, justificam o sofrimento dos heróis e protagonistas. Os excêntricos também estão fora da caixa dos bonzinhos desinteressantes. Não são previsíveis. Não têm um final feliz determinado.

Eu não sou encrenqueira, mas também não finjo que não sou quando algo me soa muito absurdo. Cada um tem seu limite para a tolerância. Eu simplesmente não consigo ficar calada em determinadas situações. Não é inteligente. É estúpido. Eu sei. O impulso é burro. Não é calculado. Refletido. Eu sei. Adoraria ser uma pessoa mais calculista, estratégica, concentrada, menos agitada. Eu não deixo de ser polida, mas sei que falo demais. Costumo ter bons argumentos. Sou bem capaz de irritar alguém só pela minha argumentação. Nem sempre estou certa. E muitas vezes não estou errada. C'est la vie.
O fato é que eu desconfio de bonzinhos demais. Atraio e sou atraída e por gente complexa, que muda, que se deprime, que dá volta por cima, que sofre, que vibra, que critica e ri de si mesma. Considero muito importante saber rir de si mesmo.

Por falar em maldade, em " Onde os fracos não têm vez", filme dos Irmão Coen, as frases do personagem de Tommy Lee Jones, o xerife, combinam piadinhas irônicas com reflexões sobre o tempo e o sentido do bem e do mal. Mas a violência do filme é algo, assim, que surge e se instala. Não pede passagem, não pede licença.

No filme, o psicopata, interpretado por Javier Bardem, possui um tipo de crueldade exponenciada, muito acima de qualquer normalidade, está sempre de preto e é um cara de pouquíssimas palavras, absolutamente sinistro.

Acho que o ator deve se sentir estranho e esgotado interpretando um tipo maligno e esquisito como esse.

O jogo de cara e coroa, usado para decidir se deve ou não matar uma pessoa, personificando um mensageiro do destino, e a naturalidade com que faz isso, assustam pela frieza. O cara usa uma arma de ar comprimido para não deixar vestígios. E revela um tipo de brutalidade sem a menor preocupação com as convenções existentes até para se cometer crimes. O mal in natura.

Uma coisa é certa: o mal só existe, porque o bem coexiste. Como o yin e o yang. Sempre se complementam.

"A nossa geração não lamenta tanto os crimes dos perversos quanto o estarrecedor silencio dos bondosos". Martin Luther King

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