sábado, 4 de julho de 2009

O Pálido Ponto Azul em que Vivemos

"Não é possível convencer um crente de coisa alguma, pois suas crenças não se baseiam em evidências; baseiam-se numa profunda necessidade de acreditar."

A frase acima é de Carl Sagan, um norte-americano que foi professor de astronomia e ciências espaciais na Cornell University e autor de diversos livros e artigos. Ele também apresentava a série de TV chamada "Cosmos".

Dedicou sua vida ao desenvolvimento e à divulgação da ciência e desempenhou um papel incomum como "homem da ciência". Foi capaz de comunicar-se tanto com seus pares quanto com o público leigo, o que é muito raro no mundo científico.

Ele foi uma dessas pessoas que inquietam, perturbam, questionam e, por isso mesmo, ajudam a expandir e a transformar a percepção que se tem da vida, dos seres e das coisas. Eu tenho e recomendo a leitura de "O Mundo Assombrado pelos Demônios", que fala sobre a relação existente entre a ciência e as pseudociências. A melhor sinopse encontrada na web para descrevê-lo mais resumidamente foi essa: "...Carl Sagan descreve o misticismo, as soluções que renunciam à compreensão do mundo em favor das especulações sem base na experiência sensível..." E por aí vai.

Eu faço o tipo de leiga que se interessa por aquelas coisas que não se consegue compreender. Sou movida pelas minhas ambições e curiosidades. E limitada pelas minhas frustrações e impotências. Ainda assim gosto de pensar sobre o desconhecido, questiono crenças que não podem ser comprovadas e sobre a nossa solidão nesse vasto universo que nos cerca. Não me conformo com teorias simplistas do tipo: "E Deus criou o universo". Tá. Só isso? Nada mais? E aí, ele não fez mais nada? E Deus fazia o que antes de criar o universo? Não dá para engolir tamanho conformismo. Tenho admiração pelas descobertas humanas, pelo que há de cósmico lá fora. Gosto de pensar que todos nós somos feitos da poeira das estrelas. É uma forma poética - e que não deixa de ser verdadeira - de se imaginar a origem da vida. Mas jamais ousaria questionar a Teoria da Evolução de Darwin. E essa pode ser comprovada.

Lembro que quando criança e eu era obrigada a dormir mais cedo do que gostaria, ficava imaginando como seria o universo antes do Big Bang. Eu tentava imaginar um começo que tinha que existir. O que me levava ao infinito. E se eu pensasse para a frente também era infinito. Fechava os olhos bem apertados e via as várias cores diferentes que mudavam na minha visão interna. Já fizeram isso? Depois de um certo tempo, a escuridão que se vê internamente vai mudando de cor. Então eu ficava pensando: antes de ser tudo preto como seria? Tudo branco? E antes de tudo branco? Azul? E antes de tudo azul? Roxo? Vermelho? Era melhor do que contar carneirinho, coisa que eu acho que criança alguma jamais fez ou fará. Eu acabava dormindo porque percebia que eu ia andar para trás infinitamente. E o infinito ia me dando o maior sono.


Num dia de reflexões profundas como as de hoje, que vão além dos sapatinhos e vestidinhos que eu tanto gosto de usar e desejar nessa minha vidinha mundana, resolvi compartilhar dois vídeos bem conhecidos do Youtube. Um é narrado pelo Carl Sagan chamado "O Pálido Ponto Azul", falando das imagens captadas pela espaçonave Voyager, cuja transcrição coloquei aqui embaixo. O outro é para ilustrar a enorme insignificância do nosso planeta diante da imensidão cósmica em que ele bóia, comparando-o com outros planetas e estrelas.

É aí que a gente percebe o quanto é desnecessária toda essa nossa soberba, vaidade, arrogância e materialidade. Ainda que seja utópico imaginar relações humanas sem essas características. É aí que reside toda a nossa complexidade. Nós nos achamos o centro do universo. Porque não conseguimos imaginar ou pensar de maneira diferente disso. Não há uma experiência consciente nesse sentido. Porque somos miseravelmente humanos. Demasiadamente humanos, como diria Nietzsche.



"A espaçonave estava bem longe de casa. Eu achei que seria uma boa idéia, logo depois de Saturno, fazer ela dar uma ultima olhada na direção de casa. De Saturno, a Terra apareceria muito pequena para a Voyager captar qualquer detalhe, nosso planeta seria apenas um ponto de luz, um "pixel" solitário, dificilmente distinguível de muitos outros pontos de luz que a Voyager avistaria: Planetas vizinhos, sóis distantes. Mas justamente por causa dessa imprecisão de nosso mundo assim revelado, valeria a pena ter tal fotografia.

Já havia sido bem entendido por cientistas e filósofos da antiguidade clássica, que a Terra era um mero ponto de luz em um vasto cosmos circundante, mas ninguém jamais a tinha visto assim. Aqui estava nossa primeira chance, e talvez a nossa última nas próximas décadas. Então, aqui está - um mosaico quadriculado estendido em cima dos planetas, e um fundo pontilhado de estrelas distantes.

Por causa do reflexo da luz do sol na espaçonave, a Terra parece estar apoiada em um raio de sol. Como se houvesse alguma importância especial para esse pequeno mundo, mas é apenas um acidente de geometria e ótica. Não há nenhum sinal de humanos nessa foto. Nem nossas modificações da superfície da Terra, nem nossas máquinas, nem nós mesmos. Desse ponto de vista, nossa obsessão com nacionalismo não aparece em evidência. Nós somos muito pequenos. Na escala dos mundos, os humanos são irrelevantes, uma fina película de vida num obscuro e solitário torrão de rocha e metal.

Agora considere novamente esse ponto. É aqui. É esse o nosso lar. Somos nós. Nele, todos que você ama, todos que você conhece, todos de quem você já ouviu falar, todo ser humano que já existiu, viveram suas vidas. A totalidade de nossas alegrias e sofrimentos, milhares de religiões, ideologias e doutrinas econômicas, cada caçador e saqueador, cada herói e covarde, cada criador e destruidor da civilização, cada rei e plebeu, cada casal apaixonado, cada mãe e pai, cada criança esperançosa, inventores e exploradores, cada educador, cada político corrupto, cada "superstar", cada "lider supremo", cada santo e pecador na história da nossa espécie viveu ali, em um grão de poeira suspenso em um raio de sol.

A Terra é um palco muito pequeno em uma imensa arena cósmica. Pense nas infindáveis crueldades infringidas pelos habitantes de um canto desse pixel, nos quase imperceptíveis habitantes de um outro canto, o quão frequentemente seus mal-entendidos, o quanto sua ânsia por se matarem, e o quão fervorosamente eles se odeiam. Pense nos rios de sangue derramados por todos aqueles generais e imperadores, para que, em suas glória e triunfo, eles pudessem se tornar os mestres momentâneos de uma fração de um ponto.

Nossas atitudes, nossa imaginária auto-importancia, a ilusão de que temos uma posição privilegiada no Universo, é desafiada por esse pálido ponto de luz. Nosso planeta é um espécime solitário na grande e envolvente escuridão cósmica. Na nossa obscuridade, em toda essa vastidão, não há nenhum indicio de ajuda que possa vir de outro lugar para nos salvar de nós mesmos. A Terra é o único mundo conhecido até agora que sustenta a vida. Não há lugar nenhum, pelo menos num futuro próximo, no qual nossa espécie possa migrar. Visitar, talvez, se estabelecer, ainda não. Goste ou não, por enquanto, a Terra é onde estamos estabelecidos.

Foi dito que a astronomia é uma experiência que traz humildade e constrói o caráter. Talvez, não haja melhor demonstração das tolices e vaidades humanas do que essa imagem distante do nosso pequeno mundo. Ela enfatiza nossa responsabilidade de tratarmos melhor uns aos outros, e de preservar e estimar o único lar que nós conhecemos... o pálido ponto azul."

Agora, a comparação de nosso planeta com outros astros... Simplesmente amazing!



"Se não existe vida fora da Terra, então o universo é um grande desperdício de espaço".
Carl Sagan.1934-1996.

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