domingo, 14 de março de 2010

Reflexões cariocas sobre notinhas de domingo

"Rio 40 graus
Cidade maravilha
Purgatório da beleza
E do caos...
Cidade sangue quente
Maravilha mutante..."

Saiu numa notinha na coluna Gente Boa, do Globo, de 14.03.2010:

Steve Jobs foi convidado pela Secretaria de Patrimônio do Rio, a abrir a primeira loja oficial da Apple no Brasil, na região da zona portuária ou num prédio histórico do Centro do Rio.

Recusou e explicou os motivos: "Não podemos nem exportar os nossos produtos com a politica maluca de taxação superalta do Brasil. Isso faz com que seja muito pouco atraente investir no país. Muitas companhias high tech se sentem assim".

Está dado o recado, Mr Jobs. O Pais tem uma carga tributária surreal mesmo. A cidade do Rio também. Como de perto ninguém é normal, por dentro, o Rio é puro caos. Mas está tentando dar a volta por cima. Está gritando por investimentos. Tem muita coisa boa para acontecer. A cidade pulsa por idéias e projetos.

A cidade tem potencial, é natural, mas por causa de anos de má administração, conivente com os mais diversos tipos de máfias, compactuada com um poder paralelo, mantido por uma gente corrupta até o último fio de cabelo, o Rio - a cidade maravilha mutante - se tornou um pesadelo caótico em muitos aspectos.

As tentativas de revitalização do Centro são evidentes e escancaradas. E concordo que deveriam ser mesmo. É um desperdício que numa cidade com tão pouco espaço para crescer e que valoriza tão bem o seu metro quadrado com vista para o mar ou as montanhas, não aproveite o potencial do centro do Rio. Além de histórico, com prédios maravilhosos, está exatamente em frente à Baía de Guanabara, projetada e arquitetada desde os tempos do Império.


Estou para conferir o que foi feito do Albamar. Um restaurante tradicional com vista abençoada, numa instalação histórica linda de morrer, que estava às moscas.

Li que alguém podendo investir está ressuscitando o lugar. Que bom...

Um dos projetos que eu mais gostaria de ver se concretizar é o de revitalização da Zona Portuária. Imagina um escritóio da Apple ali. De frente para o Porto. Imagina os gadgets da Apple muito mais mais baratos por aqui... É tão utópico assim?

Imagine se esssa região do Pier Mauá ressurgisse cult, misturando escritórios, restaurantes, bares, exposições, museus, galerias, um aquário gigante, a Ilha Fiscal, a Ilha das Cobras, uma Escola de Gastronomia, tudo junto, próximo, interligado! Caramba!

Gosto dessa solução de esconder o viaduto da perimetral. Concordo com os que afirmam ser de uma feiúra urbanística desnecessária, polui mesmo a visão, mas destrui-lo é jogar dinheiro fora e promover ainda mais caos no trânsito.



Olha aí o projeto de aquário do Pier Mauá.

As obras da escola italiana de design nas instalações do Cassino da Urca.




E se o metrô funcionasse eficientemente, levando transporte coletivo e de qualidade por todos os seus subterrâneos, educando os seus passageiros para o uso consciente e civilizado do transporte que oferece. Ao ponto de fazê-los perceber que não podem ficar parados na porta, bloqueando a entrada dos vagões. Este detalhe é muito importante. É como a evolução da espécie carioca. É pedir muito? É sonhar tanto assim? É tão difícil assim se tocar que dois corpos não ocupam o mesmo espaço?

E um Maracanã com estrutura de estádio de primeiro mundo. Por dentro e por fora. Com solução de estacionamento segura e confortável.



O Hotel das Paineiras, o Hotel Gloria e o Nacional revitalizados.



Todos os hoteis conceituais que já existem e os que serão criados. Esse aí é o Hotel de Santa Tereza, também conhecido como Hotel dos Descasados. Aí já foi uma pensão que abrigava recém separados por um tempo, até que a vida desses descasados se estruturasse novamente ou pelo tempo que tivesse que ser. Hoje é esse hotel lindinho aí.





Tomara que os muitos hotéis esperados para o Rio até à Copa e as Olimpiadas de 2016 criem realmente oportunidades de emprego e uma melhora geral no setor de serviços, que são ruins de dar pena, e muitas vezes, de dar raiva mesmo.

Eu queria um Teatro Municipal com temporadas e espetáculos mais acessíveis, livre dos cambistas, como todos os teatros de ópera do mundo. Acho aquela praça da Cinelândia onde ele fica uma coisa linda, com os prédios da biblioteca nacional, do museu de belas artes, da câmara municipal, do antigo tribunal de justiça, o cine Odeon...




E se os bairros da Lapa e de Santa Teresa com seus cabarés, antiquários, casas de samba, diversidade e intenso intercâmbio cultural, pulsassem numa vibração menos caótica?Pelo menos sem cheiro o de xixi nas calçadas e tantos isopores de cerveja nas calçadas? Eu li, em algum lugar, que os Arcos começaram a ser restaurados. Já não era sem tempo.












Eu queria um Rio com mais garagens subterrâneas e menos flanelinhas extorquindo dinheiro por um pedaço de meio-fio que não lhes pertence. Um Rio que soubesse fazer o rodízio civilizado dos veículos que circulam pela cidade. Sonho muito grande, né? E ainda maior se imaginado sem o monte de emaranhado de fios que alinhavam a rede de elétrica. É muito feio.
Eu torço pela revitalização da cidade em todos os sentidos, apostando que a qualidade de vida tem que chegar para todos, independente de onde elas morem. Só assim é possível corrigir o erro histórico de abandono e segregação de parte da população carioca, formada em sua maioria por descendentes de um passado escravo, amontoados em favelas onde explode a violência, onde o acesso à educação é pouco e vivendo num grande faroeste caboclo.

O Rio é muito maior do que a estreita faixa da Zona Sul. A paisagem linda antagoniza com despudores urbanos. Cidade Maravilha não combina com tanta gente abandonada, sobrevivendo sob elevados e calçadas, esfregando suas misérias na cara de uma gente como eu, que não encontra solução para as suas desgraças.

Eu adoraria acreditar que pode ser diferente. Que o projeto das UPP's, por exemplo, pode realmente dar certo nas favelas, de maneira sustentável e possível. Ipanema tem mostrado que sim, é possível. Pode dar certo. Tomara que sim.

Por outro lado, alimentando o tradicional preconceito carioca entre suburbanos e moradores da Zona Sul, a parte nobre da cidade, o que se viu no Carnaval, foi uma Ipanema invadida por uma gente muito mal educada, feia pela atitude, pela interação daninha com o espaço e todos ao redor. Não, meu discurso não pretende ser fascista e preconceituoso. Não é essa a intenção. Logo me explico.

Tenho conceitos, sim, e aceito numa boa que me provem o contrário deles, sem problemas. Humildemente, admito que sou uma especialista em nada, mas mesmo assim, tenho uma opinião formada sobre quase tudo. Parodiando Raul Seixas ainda mais: eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo...

Voltando aos conceitos, os meus são baseados no que me agrada, no que vejo e sinto, nas situações e sensações que experimentei e nos fatos que testemunhei, na forma como fui criada. Acho que até aí não é demagogia alguma dizer que todos nós temos conceitos formados, muitos deles condicionados aos nossos valores. Mas PREconceitos eu não tenho, não.

Não justifico a antipatia por alguém baseada apenas na diferença da cor de pele, raça, credo, estado civil, opção sexual, profissão, nome, origem, beleza, posição social, formação, experiência, conta bancária... Não costumo fazer nada isso. Aprecio o caleidoscópio humano diversificado. E se alguma vez na vida prejulguei algo ou alguém, peço perdão, sou apenas demasiadamente humana.

Mas me dou todo o direito de não gostar de indivíduos com quaisquer das caracteristicas acima, não porque elas justifiquem a antipatia, mas porque tenho o direito de julgar qualquer coisa ou pessoa de acordo com os meus conceitos. Desde que, obviamente, esses mesmos conceitos não agridam as convicções e os conceitos dos meus semelhantes. Não sou fascista. Não pretendo nunca ser ditadora. Não costumo agir como uma sociopata.

Admito que eu tenho uma certa predisposição a desconfiar de evangélicos. Tento não demonstrar, mas tenho essa má vontade. Mas tento não fazer julgamentos por causa de uma crença que não me diz respeito e não deveria me incomodar. Mas confesso que me incomoda um pouco, sim. Tenho uma certa implicância com religiosos em geral, principalmente evagélicos. Acabo rotulando e generalizando o que não conheço e não me disponho a conhecer, como exploração da boa-fé alheia e disseminação da ignorância coletiva. É como se eles representassem a unanimidade burra e pasteurizada, pregada por pastores exploradores e tão mal formados culturalmente quanto os cordeiros dos seus rebanhos. É radicalismo da minha parte, mas estou me confessando.

Agora reconheço que numa sociedade que trata os seus excluídos de maneira tão injusta, as igrejas e religiões, sejam elas quais forem, dão referências a quem não as tem, e oferecem algum aconchego no meio de tanto abandono e descaso, fomentados por segregação, intolerância e violência.

Ufa! Pronto, falei. Esse post acabou em tom de protesto, diferente de tudo o que já escrevi aqui. Saiu espontaneamente. Não me reprimi. Não tenho autoridade para falar sobre tudo o que comentei aqui. Mas tenho a minha opinião. E o blog é meu... Aqui escrevo sobre o que eu quero.


"O Rio é uma cidade
De cidades misturadas
O Rio é uma cidade
De cidades camufladas
Com governos misturados
Camuflados, paralelos
Sorrateiros
Ocultando comand
os..."
Fernanda Abreu

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