domingo, 10 de janeiro de 2010

As pontes de cada um

Eu não quis falar da virada do ano logo de cara, não acho que as coisas vão mudar tanto assim, embora eu faça considerações sobre a passagem do tempo cronológico, e assim, também faço as minhas propostas de renovação, me imponho metas, falo com pessoas que durante os 365 dias do ano que passou, eu não tive contato.

Quase sempre fico mais melancólica nessas épocas entre Natal e Reveillon. Mais reflexiva. Fico cansada do tanto de compromissos sociais dos quais não consigo me livrar. Fico insatisfeita por não me programar direito para as férias que se seguem. E já não entro em algumas "roubadas" - designação que atribuo à certas situações dessa vida.

Decididamente, não gasto mais tubos de dinheiro por causa de uma noite apenas de fogos, palmas para Yemanjá e roupas brancas. Quanto aos presentes, acho que são legais de trocar. Eu gosto de presentear aqueles de quem gosto e de ter um bom motivo para abrir um espumante e ingerir aquelas borbulhas fantásticas. Mas até isso tem me enjoado um pouco. Aquela coisa insana de enfrentar lojas e shoppings para comprar qualquer bobagem descartável e desnecessária, só para dizer que não esqueceu de fulano ou beltrano, está fora do meu contexto. E me senti ótima assim.

Fiz umas comprinhas pela Internet, os presentes atrasaram. Outra experiencia adquirida e já abandonada. Vivendo e aprendendo. A melhor parte ainda é dar presentes para as crianças que realmente acreditam no Papai Noel. Para essas ainda vale à pena. Mas nesse calor de El Nino, incompreensível e insuportável para mim, só de pensar no modelito da figura natalina e de todos aqueles que têm que incorporá-lo, minha pressão despenca e fico com uma certa aversão à tradição.

E assim, como me permito escrever aqui só quando eu quero, numa espécie de catarse pessoal, deixei passar esse periodo, embora tenha percebido que se passou uma década significativa na minha vida. Estou mais próxima dos 40 agora e bem distante das minhas aspirações. Isso me provoca um certo sufocamento.

Aí resolvi assistir "As Pontes de Madison". Só para terminar de me torturar com o preço das minhas escolhas e consequentes frustrações. Amo esse filme que andava esquecido. Me emocionei de novo com ele, só que numa fase completamente diferente da minha vida. Chorei um balde por mim mesma.

Para quem não sabe, o filme conta uma história de amor na maturidade da vida dos protagonistas. Ambos já passados dos 50 anos, com uma vida presumivelmente estruturada e definida, sem esperanças de grandes surpresas.

Francesca, a personagem de Meryl Streep, é uma dona de casa do Iowa, imigrada da Itália pelo casamento com um americano - o único homem que havia conhecido até então. Mãe de dois filhos adolescentes, isolada na sua pacata vida doméstica, representa uma ponta da típica familia do sonho americano.

Robert, vivido por Clint Eastwood, é fotógrafo e jornalista da National Geographic. Um aventureiro andarilho e solitário, gentil em seu modo de ser, mas que nunca havia enxergado alguém de fato, que percorre quase todos os caminhos do mundo para um dia estar ali naquele lugar e conhecer Francesca.

O encontro dos dois é uma dessas ocasionalidades da vida. Francesca limitada por seu cotidiano simplório, compartilha com Robert, a admiração por suas aventuras e andanças. E assim instala-se uma paixão de 4 dias entre eles, meio etérea, que chega tarde, pressupondo renúncias dolorosas.

Apesar de se manter oculta e desconhecida por terceiros, esse amor é revelado após a morte dos que a viveram, aos filhos de Francesca, numa espécie de anotações deixadas por ela como legado às escolhas deles.

O filme tem cenas sutilissimas, transbordando as dores das escolhas, num amor transcedental e de muito bem querer. Chorei muito mesmo, algo que necessito fazer de vez em quando, para sentir de verdade o que se passa dentro de mim, me oprimindo, me machucando e pulsando. Isso tudo até a manhã seguinte, quando refeita e imbuída do papel que sou obrigada a representar todos os dias, me sinto mais humana e um pouco mais em paz com minhas urgências e insatisfações. Agora sim, que venha mais uma década na minha ordinária existência

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