quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Madeimoselle Chanel

"Quem não gosta de estar consigo mesmo em geral está certo." Coco Chanel.

Abri minha caixinha de Pandora depois de muito tempo. Estava bem empoeirada... Nem sei muito bem porque, mas acho que foi o filme que vi: "Coco avant Chanel", de Anne Fontaine. Simplesmente amei. Fez eu me destravar um pouco.

Gabrielle Chanel era esquisita e curiosamente diferente como quase todo mundo gostaria de ser, mas não tem a coragem necessária para de fato o ser. Ser diferente dá trabalho. Faz sofrer mais do que apenas se juntar às massas e desaparecer no meio delas, guiado pelas regras que as conduzem. Não é querer aparecer. É simplesmente uma questão de atitude.

E são exatamente as nossas atitudes que contam a nossa história. Imagina se Coco Chanel tivesse se conformado com a realidade de sua condição social? Se nunca tivesse questionado o exagero, se não tivesse ousado e saído um dia de pretinho básico quebrando regras implícitas e, por isso mesmo, mais difíceis de serem questionadas?

Foi por ter percebido que a beleza vinha da liberdade, dos movimentos naturais, da espontaneidade, da leveza, das formas mais simples, que ela conseguiu ultrapassar todas as mais fortes probalidades de uma vida medíocre e difícil. E fez toda a diferença.

Assim como Yves Saint-Laurent em seu tempo, Madeimoselle Chanel provocou uma verdadeira revolução nos figurinos e na postura da mulher, libertando-a dos espartilhos, das amarras, das saias cheias de babados, permitindo um conforto com elegância. Ela queria dar às mulheres "a possibilidade de rir e comer, sem necessariamente desmaiar".

Dizia com muita propriedade: "Não há mulheres feias, há mulheres mal cuidadas".

Pesquisei e pesquisei, e como se sabe, de perto ninguém é normal, e Coco Chanel tinha dificuldade em admitir suas origens pobres. Mentia descaradamente sobre esse assunto. Só depois de sua morte, num domingo de 1971, no Hotel Ritz, onde viveu por anos, veio a se saber, publicamente, que teve uma infância triste, impregnada de uma espera dolorosa por um pai que nunca mais veio buscá-la no internato onde a deixou junto com suas 2 irmãs. Curioso é que Chanel não suportava ficar sem fazer nada. Gostava de trabalhar e lutou por sua independência financeira numa época em que trabalhar não era uma coisa muito louvável para mulheres. Por isso detestava os domingos. E morreu exatamente num. Dizia: "Só aos domingos eu não invento nada"

Nascida no interior da França, na cidade de Saumur, Gabrielle Bonheur Chanel ficou órfã de mãe aos 12 anos. Na realidade, o pai era um vendedor ambulante das feiras do Vale do Loire que teve um affair com sua mãe, Jeanne Devolle, então com 19 anos quando engravidou, sem que os dois fossem casados oficialmente. Tiveram 5 filhos. Um escândalo de gente sem um nome importante.

A mãe de Gabrielle Chanel morreu de tuberculose aos 32 anos. O pai levou as 3 filhas para um colégio interno de Aubazine, e nunca mais apareceu, como havia prometido às filhas, que acabaram educadas pelas freiras pouco amáveis da Ordem do Sagrado Coração de Jesus. Já os irmãos foram trabalhar numa quinta.

Aos 16 anos trabalhou como balconista e depois, por conta própria, em um cabaré, onde cantava a música ''Qui qu´a vu Coco dans le trocadero?''. Essa parte é mostrada no filme. A música, cantada por Audrey Tautou, que está perfeita, ficou uma graça. Chanel tentou a vida de corista, mas não deu muito certo devido à sua altura, ela era baixinha.

E foi no cabaré que conheceu Etienne Balsan, um milionário bon vivant, apaixonado por cavalos, herdeiro de uma família rica francesa, com quem passou a viver. Foi através do relacionamento com ele, que depois passou a grande amigo, que chegou a Paris, onde foi inserida na alta sociedade local. O Balsan do filme me deixou com a vontade de ter um amigo como ele.


Depois, com a ajuda do inglês Arthur Capel (que dizem, e é bem retratado no filme, ter sido o grande amor de Chanel, morto num acidente de carro, em 1919), montou sua 1ª loja, a Casa Chanel, em 1910.

No começo, vendia chapéus com um estilo mais simples, sem grandes adornos para as mulheres que frequentavam o Joquei Clube parisiense. Depois, começou também a vender roupas de praia e de montar a cavalo. Pioneira, inventou as primeiras calças femininas.

Em todos os eventos sociais onde ia, introduzida por seus amigos influentes ou artistas, ela intrigava as pessoas com seus looks mais simplistas e sua ousadia em misturar peças femininas e masculinas.
E sempre manteve uma profunda convicção e segurança quanto ao seu estilo próprio e exótico.

Tinha um humor instável bem caracteristico das personalidades ditas geniais. Era interessante, intensa e impulsiva. O filme pára exatamente aí. Nessa fase. Coco antes de Chanel. Até o seu primeiro desfile.

Life is always going on e em 1913 (ainda antes da I Guerra Mundial) abriu duas casas: uma em Deauville, outra em Paris. Em 1916, abriu uma loja de Alta Costura, em Biarritz, e em 1920, fixou-se de vez na Rue Cambon, onde a Maison Chanel existe até hoje.

Coco Chanel apenas desenhava as roupas que gostava de vestir. Criava esboços em cima dos tecidos, no corpo das modelos. Dizia que era a roupa que deveria se adequar ao corpo, e não o contrário.

Pretendia atingir o maior número de mulheres que pudesse, com suas roupas de cortes retos. E não se importava em ser copiada por outros estilistas, ela se satisfazia em ver as mulheres vestindo as suas criações. "A moda reivindica o direito individual de valorizar o efêmero", dizia.

Espertinha, ela penetrou o seleto mundo masculino dos negócios, foi independente, fundou um verdadeiro império de moda e imortalizou um estilo de se vestir.

Transgressora, preferiu não se casar, embora tenha vivido amores intensos com personalidades tão interessantes quanto ela. No filme, o playboy inglês, conhecido como Boy estava para se casar com a rica herdeira de um lorde inglês. Chanel manteve uma relação com ele assim mesmo, sem pudores. O que não significa sem nenhum sofrimento. Ela simplesmemte preferiu se manter independente diante das circunstâncias.

Viveu romances com os russos Igor Stranvinsky e o bailarino Nijinsky, que se tornaria um grande amigo, além do Duque de Westmisnter, outro grande amor. Foi ele que lhe apresentou Winston Churchill.

Durante a II Guerra Mundial, Chanel fechou sua Maison e foi viver no Ritz, onde também ficava a alta cúpula do comando alemão. Ali envolveu-se com um cartunista alemão e foi influenciada por suas idéias nazistas, segundo as quais não haveria maiores problemas na presença germânica na França.

Coco achou que poderia convencer Churchill a ouvir uma proposta de paz alemã. Por isso foi até Madri, na esperança de se encontrar com o primeiro-ministro na embaixada britânica.

Esse encontro nunca aconteceu. Mas o envolvimento com os alemães lhe rendeu horas de interrogatório e a suspeita de ter colaborado com os nazistas. E, consequentemente, uma antipatia por parte dos franceses, difícil de ser digerida. Dos tempos de guerra até 1953, as lojas Chanel permaneceram de portas fechadas, por decisão da própria Chanel.

Geralmente estilistas têm um profundo respeito pela relação que as pessoas estabelecem com o jeito de se vestirem – ainda que, de vez em quando, estilistas também tenham falhas de caráter e não sejam as pessoas mais perfeitas do mundo. Chanel foi, sem dúvida, uma espécide de Madonna, uma mulher à frente do seu tempo, controversa e empreendedora, sujeita à tempestades de cólera e comentários venenosos, quando se sentia ameaçada.

Mas fez uma verdadeira revolução no guarda-roupa feminino através de suas criações - peças antológicas que fazem parte dos guarda-roupas até hoje.

Foi ela que inventou o onipresente pretinho básico, os vestidos tipo tubinho, os casaquinhos de tricô, os sapatos bicolores, o uso de jaquetas, saias plissadas e tailleurs, o estilo navy com golas roules e listras azuis marinho, as bolsas com alça de corrente dourada, o uso de pérolas fake e da camélia como broche. As calças boca-de-sino vieram depois de uma visita à Veneza, onde Chanel as criou por serem mais práticas para subir e descer as gôndolas. Chic a valer...



Imortalizou o tradicional corte de cabelo reto e na altura do queixo: o "corte chanel". Dizem que foi porque seu cabelo pegou fogo e ela lançou essa moda. Assim como lançou o perfume "Chanel nº 5", um ícone que a tornou milionária. Foi o perfume mais vendido até hoje e teve ninguém menos do que Marilyn Monroe como garota propaganda.

Enfim, criou todo um jeito elegante de se vestir e agir, baseada na certeza de que mais era menos, presente em seu DNA. Ou seja, era elegante por natureza.

A produção do filme “Coco avant Chanel” contou com a assessoria de Karl Lagerfeld, que está à frente da Maison desde 1983. Ele resgatou a marca que caiu no ostracismo após a morte de Madeimoselle, em 1971, e se empenhou em torná-la uma das mais vendidas no mundo.

Criativo e fiel ao estilo de Chanel, Lagerfeld mantém o caminho traçado por ela, mas é engraçado perceber que raramente a marca Chanel é ligada ao conceito que lhe deu origem: a simplicidade.

Adorei quando Audrey Tautou interpretou a estilista sentadinha nas escadas, observando detalhadamente o seu desfile, exatamente como Madeimoselle Chanel fazia.
Uma fofoca: A atriz está ótima como Coco, mas parece que fez uns comentários negativos sobre a personalidade de Chanel. Embora seja a atual garota propaganda do Chanel nº5, Lagerfeld pinimbou com ela e a colocou literalmente na geladeira. Audrey Tautou não é convidada nem para os desfiles da grife...

E mais uma frase de Madeimoselle Chanel...

"Eu não entendo como uma mulher pode sair de casa sem se arrumar um pouco - mesmo que por delicadeza. Depois, nunca se sabe, talvez seja o dia em que ela tem um encontro com o destino. E é melhor estar tão bonita quanto for possível para o destino."

Um comentário:

  1. Querida filha, adorei sua postagem sobre "Coco Chanel". Normalmente não ligo muito para Moda, mas foi interessante saber tanta coisa a respeito de pessoa tão polêmica quanto vitoriosa. Mas, o que eu mais gosto mesmo é do que vc. esvreve. Parabéns, filha!

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