sábado, 16 de janeiro de 2010

Essa tal de liberdade é azul?

Eu gosto da sensação de liberdade. Admiro quem de fato a tem. Adoro ficar sozinha, embora eu seja um ser totalmente gregário e, que por isso mesmo, valoriza tanto ficar só.

Nesses momentos, que se resumem a acordar mais cedo do que os outros habitantes queridos que dividem o mesmo espaço que eu para usufruí-lo sozinha , eu diria que uma das minhas reflexões mais contantes é a de tentar definir o que é a tal liberdade que está me faltando.

Aí dei de cara com esse texto aqui, que nada mais é do que uma interpretação livre dos "Diálogos de Platão" e das "Memoráveis de Xenofonte", sugerindo os modos e os meios de como viver melhor consigo mesmo e suas circunstâncias. Eu me concentrei mais na questão da liberdade.

"Um exame apressado sobre o significado da liberdade pode concluir que é livre quem se declara liberto de regras, obrigações, convenções, só fazendo o que deseja e lhe dá prazer.

Mas essa definição de liberdade é superficial, não passando de um artifício usado pelas pessoas que jamais se debruçaram sobre si mesmas e se perguntaram até que ponto eleger fatores externos para afirmarem-se como seres livres os aprisiona nessa dependência, em vez de libertá-las de tudo o que afirmam desobedecer.


Manifestações de rebeldia podem exteriorizar a luta pela liberdade, mas são um fim em si mesmas porque possuem um objetivo transitório que, uma vez alcançado, perde o sentido. Na busca da liberdade, o homem só abandona a ilusão de havê-la encontrado quando se convence que sem conquistar-se a si mesmo não a alcançará.

As pessoas que se imaginam livres,
por não serem escravas de nada e de ninguém,
devem examinar essa convicção com muito cuidado,
pois ela as impede de se deter sobre o verdadeira análise da liberdade.

A liberdade só é autêntica
quando não depende de nada exterior,
mas do conhecimento que precisa existir
das suas limitações e da sua autonomia
em relação a qualquer influência que possa desviá-la
do aperfeiçoamento interior.



Aquele que se conhece verdadeiramente está livre do desejo de possuir bens materiais além dos estritamente necessários para viver.

Mas aquele que não tem força suficiente para resistir ao desejo de consumi-los está no caminho oposto ao do equilibrio: quanto mais tiver, mais sentirá vontade de ter, numa ânsia ilimitada de satisfazer-se sem conseguir, pois sempre haverá algo novo, seja-lhe ou não necessário.



Uma pessoa assim está em eterna competitividade com quem ostenta mais, como se a posse desmedida de bens fosse a demonstração de superioridade perante elas.

Mas essa superioridade é ilusória,
constatada por quem, algum dia
conhecerá a inutilidade da sua ganância.


Contentar-se com o que possui está entre os mandamentos do viver bem e, diante das múltiplas ofertas ao seu dispor, satisfazer-se por não precisar de nenhuma delas:

As coisas indispensáveis são sempre muito poucas.


A vontade pode ser forte, mas quem resiste a ela, deve orgulhar-se de ter derrotado o impulso — o mesmo que leva a paixões enlouquecedoras— e alcançar a vitória sobre si mesmo.

A atração por coisas inúteis faz parte daquilo que a natureza humana tem de misterioso, pois enquanto a razão mostra que elas são desnecessárias, um impulso nascido em tempos imemoriais impele a possuí-las cada vez mais, — num processo difícil de ser interrompido".

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