domingo, 14 de junho de 2009

37 in the Wonderland

"Se você não sabe para onde quer ir; qualquer caminho serve"
Gato Maluco para Alice no Pais das Maravilhas

Acabei de fazer 37 anos. Assim, de repente, o número de anos vividos pesou. De um jeito que não pesava antes. Nada de muito dramático. Trata-se apenas de uma constatação. Reconheço que já não sinto mais a mesma empolgação pela data. Quando criança eu a anunciava aos 4 ventos, com uma euforia, um entusiasmo... O tempo realmente desfaz alguns encantamentos. É que não faz mais tanta diferença nas minhas rotinas, embora eu goste de preservar algumas tradições. Aniversário é um dia único no calendário solar, afinal, nesse dia a Terra completou mais uma volta ao redor do sol junto com o aniversariante. Gosto de pensar assim.Pode ser sempre um dia para pensar sobre mim mesma. É como ver a unidade de tempo da minha ampulheta. Funciona como um alerta para um momento de balanço pessoal.

Eu fiz o meu balanço. Para 37 anos de experiências vividas, percebo que sou relativamente feliz. Posso dizer que me sinto amada de verdade, algo que tristemente, nem todo mundo sabe o que é. Já sei o que é amar com segurança, no piloto-automático, sem susto, num céu de brigadeiro. Mas já amei feito uma louca também. Hoje sei que essa loucura não pode durar mais do que o tempo permitido e que pouco amor, definitivamente, não é amor. Aos 37, já desejei e fui rejeitada. Essa experiência foi das mais dolorosas. Foi difícil entender que não havia nenhum problema comigo. E só depois de muita auto-flagelação é que comecei a entender que essa frustração podia me motivar a me tornar alguém melhor, de acordo com as minhas próprias exigências e não com as de alguém que, definitivamente, não se interessou por mim. É duro admitir. Puxa...

Aos 37 admito que já fui traída e que sou capaz de perdoar. Também já traí. Já me senti culpada. Já superei. Já levei um fora. Já botei um ponto final num relacionamento e fui à luta.

Aos 37, já consigo identificar minhas "doencinhas", meus padrões de repetição patológicos. O que não significa que aprendi a lidar com eles. Isso ainda não...

Aos 37, sei o que é ser mãe. Uma experiência humana que me ensinou o que é a renúncia, o amor incondicional, que me fez entender, filosoficamente, que eu continuo através do meu filho, que me traz uma paz inexplicável e que eu tenho muitas responsabilidades sobre essa escolha. Já reconheço as minhas ausências e os valores mais importantes que consegui passar. Quanto aos valores, me sinto orgulhosa. Quanto à sua auto-estima, me sinto responsável por ela, sim. E isso me dói bem fundo. De um jeito agudo. Sei que ainda há muito para participar na vida dele e muito para dar em força e cumplicidade. E que ele é muito especial. E diferente de mim.

Aos 37 eu reconheço que não tenho a liberdade que eu tanto admiro. Mas não faço disso um drama. Reconheço o resultado das escolhas que fiz. De algumas eu me orgulho, de outras eu me arrependo um pouco. Também já não acredito em quem diz que não se arrepende de nada. Eu consigo dormir tranquila, nunca prejudiquei ninguém, mas fiz algumas burradas das quais gostaria de voltar no tempo e fazer diferente. Mas sei que não posso. Pelo menos, não de forma consciente. E assim vou pensando no futuro. E reconheço que sou um desastre em matéria de planejamento pessoal. E essa é uma das minhas maiores angústias. E o que mais me torna uma escrava do trabalho que eu, às vezes, questiono. Preciso, desesperadamente, ter um plano B mais bem estruturado. Que me equilibre melhor. E preciso, urgentemente, desenvolver um nível de concentração mais avançado para os meus objetivos. Sou extremanente dispersa.

Aos 37 eu já sei o que me cai melhor e o que definitivamente não me serve. Fiquei mais feminina e mais segura do que me veste bem. Já aprendi que ter muitos sapatos os conservam por mais tempo e essa justificativa me deixa feliz. Observo o mundo com um senso estético mais apurado e já aprendi que para a elegância, mais é menos.

E que eu preciso de momentos de solidão para ler os meus livros ou escrever um pouco do que me vem à cabeça.

Aos 37 passei a me interessar por filosofia. Passei a me fazer perguntas consistentes do tipo: Se eu morrer, vou fazer falta para quem? Quantos amigos de verdade se têm em uma vida? Tenho medo da morte ou de envelhecer? O que me dá conforto diante do morte? O que realmente me emociona? O que me seduz? O que consegue me tirar o sono? O que andei fazendo até aqui? O quanto de verdade sou capaz de suportar? Aí verifico as respostas. Para algumas, ainda não encontrei resposta. E para essas, a minha Scarlett O'hara interior diz que amanhã a gente pensa nisso... Aos 37 ainda sou otimista.

Aos 37 percebo que já está na hora de saber a hora de ir embora de alguns lugares e que ainda não bebo socialmente como uma "lady" deveria. O problema é que antes eu não ligava para isso, mas agora os excessos também me entediam. Um pouco antes dos 37, descobri que, definitivamente, não faço o tipo "mulherzinha". Tudo bem. Não faço mesmo. Mas reconheço as desvantagens de se matar um leão por dia. É cansativo. Aí, aos 37, comecei, tardiamente, alguns rituais sabáticos que eu chamo de sessão beauté. E estou começando a agradecer um elogio sem ficar embaraçada. Estou aprendendo a dizer simplesmente "obrigada" ao invés de depreciar o elogio que não sei ouvir. E reconheço também que eu falo mais do que deveria.

Aos 37 ainda me permito alguma fantasia adolescente. Nos últimos tempos tenho me imaginado uma violinista, num vestido lindo, solando freneticamente em plena Acrópole e surpreendendo a platéia. Para sonhar não preciso ser modesta. E solos de violino me dão arrepios na nuca.

Aos 37 já questionei a lealdade de uma amiga e isso me trouxe uma tristeza profunda. Percebi que nada mais me surpreende muito. Já percebi a fragilidade da vida. Noto que toda catástrofe envolvendo a morte de muitas pessoas me causa impacto, perplexidade. Entendo que não posso escolher a hora da minha partida, mas não acho justo que eu não possa escolher a forma como vou morrer. E aí tenho fases de questionamentos profundos. Também não compreendo a violência. A brutalidade me estarrece.

Aos 37 ainda não resolvi o passado com os meus pais. E isso me prende numa adolescência que não se justifica mais, me mantém presa à uma imaturidade que já deveria ter deixado de existir. Reconheço que minha mãe ficou uma pessoa muito mais sábia e que meu pai deva sofrer muito. Ele é muito intenso. Controverso. Polêmico. Eu tenho dificuldades em ficar próxima dele por muito tempo, mas gosto de saber que ele está por perto.

Aos 37 já admito que dificilmente vou me tornar uma atleta. Não está no meu DNA. Nem nas cotas de sacrifício que me estão destinadas. E, com toda a honestidade: que eu mesma pretendo fazer. Mas ainda vou tentar correr mais do que consigo. E estou começando a me tocar que o segredo das dietas é comer pouco, e assim, com o tempo, comer de tudo. Ah! E já identifico umas rugas no canto dos olhos quando eu sorrio que não existiam antes.

Aos 37, já sei que tenho que parar de me iludir, mas admito que ainda preciso das sensações analgésicas da ilusão e que tinha um tempão que eu não escrevia aqui. E que tem muita coisa que eu ainda não fiz. E que a minha ansiedade me tortura quando percebo que estou longe de riscar alguns ítens da minha listinha de coisas a fazer. Ano que vem eu faço um novo balanço.

Por enquanto, eu tenho mais 365 dias e noites para viver e algumas coisas devem acontecer até os meus 38 anos de existência. Talvez não sejam muito significativas, ou talvez sejam. Não sei, não posso controlar o tempo. Mas ando obcecada com a história de "Alice no Pais das Maravilhas". Por isso vou terminar com outro trecho do livro de Lewis Carrol:

" Quem é você?”, perguntou a Lagarta. Não era uma maneira encorajadora de iniciar uma conversa.


Alice retrucou, bastante timidamente:


“Eu - eu não sei muito bem, Senhora, no presente momento. Pelo menos eu sei quem eu era quando levantei esta manhã, mas acho que tenho mudado muitas vezes desde então.

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