terça-feira, 19 de maio de 2009

Na Ilha Por Vezes Habitada

Na ilha por vezes habitada do que somos,
há noites,manhãs e madrugadas em que não precisamos de morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo aparece explicado definitivamente e entra em nós uma grande serenidade,
e dizem-se as palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas mãos. Com doçura.
Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a vontade e os limites.
Podemos então dizer que somos livres,
com a paz e o sorriso de quem se reconhece
e viajou à roda do mundo infatigável,
porque mordeu a alma até aos ossos dela.
Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres como a água, a pedra e a raiz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste.

José Saramago
Dia de ilha desértica interior cercada de gente por todos os lados. Naufragando num monte de insatisfações do mosaico que me constrói. Foto de Sebastião Salgado. Um brasileiro de muito respeito, sim senhor. Friozinho tropical de maio. Vontade de não fazer nada. Fui.

Um comentário: