domingo, 28 de junho de 2009

Discurso sobre a monogamia

"Por você eu deixaria de beber
Por você eu ficaria rico num mês
Eu dormiria de meia pra virar burguês
Eu mudaria até o meu nome
Eu viveria em greve de fome
Desejaria todo o dia a mesma mulher"
Barão Vermelho

De acordo com os estudos da antropóloga Miriam Goldemberg, deixo aqui os discursos de seus entrevistados no livro chamado "Coroas". Para reflexão. Para os padrões culturais brasileiros , que tipo de monogâmico abaixo tem um discurso que lhe convence?

1)"Eu quero que minha esposa seja a Outra. Não quero ter uma amante. Quero continuar com tesão pela minha mulher, como tenho, mesmo ela envelhecendo, gordinha, com celulite. Ela é minha companheira de conversas, cinemas, viagens, restaurantes. Gosto de nossas brigas e reconciliações, de nossas diferenças. Gosto do seu corpo, do seu cheiro, do seu gozo. Não quero ter Outra. Não quero mentir. Não quero trair minha melhor amiga".

2) "Se acontece um relacionamento extraconjugal, é um sintoma. Por que isso aconteceu? O que isso revela do casamento? Caiu na monotonia? Então tem que conversar muito para ver as decisões que devem ser tomadas. Ou separa ou tenta recuperar a empolgação primitiva. Se eu sentisse desejo de transar com outra mulher, antes disso eu ia tentar conversar com a minha esposa e tentar ver o que está acontecendo entre nós. O que seria extremamente prejudicial é esconder, enganar, empurrar com a barriga."

3) Sabe qual é o maior paradoxo? O cafajeste é o cara mais fiel do mundo. Ele é o único que faz com que as mulheres se sintam únicas. Cada mulher com quem ele se relaciona se sente especial na vida dele. E é isso que uma mulher quer ser: especial, única, ou melhor, ela quer acreditar que é única. O cafajeste é o único cara que consegue transar com dez mulheres e fazer com que cada uma das dez se sinta a única na vida dele. Não é isso o que as mulheres querem? Serem únicas? Então o cafajeste é o cara mais fiel do mundo. É o único que faz com que dez mulheres acreditem que ele é fiel e que todas elas são únicas. Moral da história: é melhor ser cafajeste do que um cara fiel, porque elas acreditam mais no cafajeste do que em nós. Não é um paradoxo maluco?"

"O único caso que tive no meu casamento foi iniciativa de uma aluna minha. Eu não estava muito a fim, mas ela insistiu muito e eu me deixei envolver. Era um momento de crise pessoal muito grande, foi uma coisa de auto-afirmação, de carência. Depois disso eu já disse vários nãos a outras mulheres. Eu sou naturalmente fiel. Não tenho nenhuma inclinação para transar fora do casamento. Isso só ocorreu quando eu estava em vias de me separar. Eu sempre fui uma pessoa completamente monogâmica até que desisti de investir no meu casamento. E decidi que queria me separar. Aí me coloquei disponível para encontar outra pessoa. Pintaram alguns casos até que encontrei a mulher com quem estou agora."

Então tá. Decidam aí sobre os discursos acima que mais lhe agradam. Qual deles lhe diz alguma coisa? Eu divido aqui a minha opinião. Fico com o número 1, que me parece um bem querer e um desejo mais verdadeiros. Eu não gosto da palavra "esposa". Acho que o desejo é mais egoísta. Então prefiro ser a mulher do momento da vida de alguém do que a "esposa", sem que isso signifique clandestinidade. Além de formal, a palavra esposa tem uma conotação de coisa reprimida para mim. Dito isso, em outro post discorro sobre o assunto do ponto de vista antropológico e cultural. E acrescento que a natureza de alguns animais é espontaneamente monogâmica, como a de alguns pássaros. Mas e os seres humanos?

"... Toda fidelidade tem que ser espontânea. Se for preciso um pingo de esforço para suportá-la, ela se transforma em martírio ...."

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